Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  julho de 2001



DIVAGANDO

Moro na terra das bruxas. Mas acho que o povo daqui não entende nada delas, pois diz que só se ocupam em dar nós nas crinas dos cavalos e andar de vassoura pelo céu. Deve haver mais, muito mais, que elas não deixam ninguém saber. Nunca as percebi, mas não acredito que sejam as velhas narigudas das figuras. Consta que se reúnem sob as figueiras, quando se dedicam a planejar tolas maldades contra os viventes. Será?... 

Por outro lado, os troncos de figueiras mortas recobertos de barba-de-velho, vistos dos barcos que trafegam na lagoa, fazem-me imaginá-los povoados de gnomos operosos, andando depressa e cumprindo tarefas - como eu os via quando era criança. Hoje, tento lembrar, mas eles não se encaixam na tampa da cisterna, onde antes havia a mangueira que habitavam. Vejo-me como numa foto, assistindo à sua faina. Eles não me davam a menor pelota, possivelmente porque eu queria tê-los como dona e senhora. Afinal, todo mundo mandava na caçula que eu era e eu queria mandar em alguém, homessa! Não sei mais se os via de verdade ou se, como diria meu pai, tudo isso é fruto de minha imaginação doentia. 

Maria Emília Berthier