O CINEMA
"Com meus companheiros de vício, foi para discutir cinema que estudei teorias de linguagem, sociologias, psicologias, metafísicas várias que, de outra forma, nunca teriam me despertado o menor interesse. Naqueles "days of wine and roses", todos sonhávamos em ser cineastas. Só um de nós, porém, foi com toda a força para o cinema do sonho. Esse mestiço alemão com húngaro, o "cacique do sul", como o chamava Glauber, que soube amar o cinema mais que todos nós".
Leminski se referia a Sylvio Back, também poeta e um dos nossos mais atuantes cineastas da atualidade, presente desde 1968 até hoje, com a participação este ano no Festival de Gramado com o filme: "Yndio do Brazil". Autor dos mais polêmicos por "resgatar uma parcela escondida da história do Brasil, ir ao sótão dessa história soterrada, jamais revelada, e por vezes escamoteada", e construir 32 filmes, é o próprio Sylvio Back quem, num depoimento para o jornal francês "Libération", ressaltou em sua arte um profundo engajamento
"com a vida, com a linguagem, com o mundo dos sonhos, dos fotogramas que revelam o irrevelado, o outro lado do estabelcido, o imponderável da natureza humana".
Assim, um projeto que defenda o cinema estará atuando, intrinsecamente, em diversas áreas, participando simultaneamente do desenvolvimento de linguagens alternativas (em oposição às linguagens de dominação, ou, como afirmou Cacá Diegues em relação ao Cinema Novo: "a compreensão da linguagem como lugar de exercício de poder"), suscitando um importante debate reflexivo e crítico, ético e estético, através da abordagem de complexas questões sócio-político-econômicas fator que engendrará uma maior conscientização e consequentemente uma maior participação política a nível nacional promovendo, em útima análise, a liberdade de expressão, a livre manifestação de pensamento, e a conscientização da cidadania, conceitos na prática tão vitais para uma sociedade verdadeiramente democrática e libertária.