Na década de 50, com Anselmo Duarte, o cinema nacional ganhou a Palma de Ouro do Festival em Cannes. Nos anos 60, a figura do cineasta se reveste de legitimidade intelectual, com o Cinema Novo. Como afirmou Carlos Diegues, em 1965, referindo-se ao significado da produção cinemanovista,
"O cinema brasileiro deixou de ser uma crônica da sociedade brasileira e passou a adotar uma visão antológica da própria cultura brasileira".
Depois veio, nos anos 70, a crise do "milagre econômico brasileiro", atingiu mortalmente as produções intelectuais e artísticas livros, peças, balês. Mais duramente castigado, também pelo papel "subversivo" que representou, o cinema, até hoje não conseguiu reerguer-se, dada a dificuldade de se auferir recursos da iniciativa privada, apesar de todo o apoio na área governamental inclusive com a criação dea recém-inaugurada Cânara Setorial de Cinema e Áudio Visual e de Leis de incentivos fiscais para a realização de projetos que vivifiquem a respectiva indústria.
É mister criar-se, com urgência, uma maneira de se captar recursos para fins culturais, sem onerar empresas — sejam públicas ou privadas —, e sem ser necessário mexer-se nos intrincados mecanismos públicos ou setoriais do Estado. Um grande desafio que pode ser vencido através do prêmio-SET ("set" é a denominação do local onde se realizam as filmagens), um modo do próprio povo, principal beneficiário da cultura, custeá-la e usufrui-la. Se, por um lado, a solução encontrada resolve o problema financeiro, por outro, ainda questiona o conceito separatista e elitista de que a arte, para existir, deve estar "imune", aquém e além da prosaica engrenagem capitalista o que a alija sistematicamente para fora das relações mercantis competitivas.
Para um projeto de tal porte, poderíamos enumerar um sem-números de itens que justificassem sua existência. No entanto, apenas listaremos alguns que consideramos mais importantes, propositalmente em número de sete, em consonância com a sonoridade vocálica do título do Prêmio.
1 - Desenvolvimento do cinema nacional, através do investimento do maior beneficiário da cultura, o povo, sem qualquer imposição ou obrigatoriedade de participação. Ele aceita aderir, de livre e espontânea vontade, com a quantia que lhe for mais conveniente, sabendo que estará ganhando tiplamente com isso: ajudando a atividades artísticas, recebendo prêmios em dinheiro e divertindo-se, posteriormente, com os filmes que ajudou a realizar.
2 - Preservação da memória cinematográfica brasileira, através do registro de filmes que marcaram época na nossa história: a capa do bilhete registrará o ano da produção, a ficha técnica, brevíssima sinopse do filme escolhido para dar nome ao prêmio do mês, o enquadramento dele dentro do contexto histórico em que foi produzido, comentários a seu respeito, uma ou duas fotos das cenas mais marcantes e as premiações que porventura tiver conseguido.
3 - Financiamento de, no mínimo, doze filmes brasileiros anuais, entru curtas e longas metragens, isto na pior das hipóteses, ou seja, no caso de que os recursos financeiros obtidos só possibilitem a realização de apenas doze produções.
4 - Possibilidade efetiva do exercício da profissão aos formandos de cinema das universidades públicas do país: atualmente, um aluno-roteirista ou diretor-de-cinema, forma-se em uma das raras faculdades sem nenhuma possibilidade de atuar de imediato no mercado de trabalho, salvo raríssimas exceções. Com o prêmio-SET, cada turma terá o direito de fazer um filme conjunto desde a elaboração do roteiro até o processo de montagem do filme da equipe o que incentivará o aparecimento de novos valores, tão necessários à revitalização de qualquer atividade, sobretudo a artística e de novos cursos universitários que formem profissionais competentes. 5 - Ampliação do mercado de trabalho, gerando novos empregos não só para a equipe técnica, como também para a mão-de-obra não-especializada (marceneiros, carpinteiros, eletricistas, gráficos, etc). A idéia é que, ao longo do tempo, o prêmio Set ele seja também capaz de criar, além de filmes, novos estúdios, novos polos cinematográficos, novas distribuidoras, novas salas de projeção, e um acervo dos filmes por ele produzidos, intensificando o setor.
6 - Mobilização favorável da opinião pública, da classe intelectual e da artística através da mídia, e seus órgãos de comunicação da imprensa escrita, falada e televisada, para o efetivo reflorescimento do cinema nacional, fazendo com que o público prestigie nossas produções, não só pelo seu alto padrão de qualidade, como também por reconhecer a importância desta indústria no desenvolvimento do país.
7 - Organização de eventos paralelos, mas ligados ao prêmio-SET, qual seja a criação da premiação dos melhores filmes, atores e diretores do ano: o Prêmio Macunaíma (título que homenagearia ao mesmo tempo um personagem negro símbolo da formação étnica do nosso povo e um importante escritor brasileiro da fase modernista, como Mário de Andrade), seria consubstanciado, por exemplo, por estatuetas esculpidas em azeviche e ouro, a cargo de um renomado artista plástico, aliando, portanto, o valor financeiro ao estimativo. Com a consolidação do evento, possibilitar-se-á a ampliação da premiação para a participação de concorrentes estrangeiros, como se faz atualmente nos Estados Unidos, França, Berlim e até em Gramado, dando maior projeção ainda ao cinema nacional no exterior, incrementando o setor turístico e motivando os empresários a, efetivamente, contribuirem mais com projetos culturais.
Como dissemos anteriormente, esta enumeração não pretende ser exaustiva, nem esgotar as possibilidades criadas a partir do Prêmio-SET; ela lista sete hipótes apenas da movimentação que, através dele e em torno dele, poderão advir, mudando, através do cinema esta sétima arte (mais um set/sete) a própria mentalidade dos produtores culturais neste país.