RETRATO NO FUNDO DO ESPELHO

Esta não é a face de minha juventude!
Não creio nestas rugas e não creio
nesta feição austera, séria e rude.
E esta barba nevada é de algum rosto alheio.
Este espelho está velho e já perdeu a virtude
da boa educação, do gentil galanteio.
Já não reflete bem. Já não sabe a que veio.
Este semblante triste não me ilude:
— Não sou eu; não sou eu este ancião tão feio!

Sou, sim, esse que vejo sobre a mesa posto,
lá no fundo do espelho, sobre a cantoneira:
Vou vestido a rigor e trago, com bom-gosto,
a Princesa-do-Amor a meu braço, altaneira.
Cabeleira de Poeta, o porte bem composto...
Essa luz em meus olhos é que é verdadeira.
Tenho assim a cabeça erguida - e, na viseira,
o anseio do Ideal que ilumina o meu rosto
e mostra, no porvir, a glória toda inteira!

— Sou aquele! E não este! É maldade e loucura
colocar em meu rosto "ais" e "nãos" e a mentira
de contar cinquenta anos de lonjura
entre o retrato e o espelho... aos acordes da lira,
foram momentos só de glória e de ventura!
Em minha mocidade inda canta e suspira
o Ideal a ganhar - a iluminada Mira
a conquistar — do Amor na feliz aventura!...

A verdade é o retrato! Este espelho é Mentira!!!!

                                                                         Itabajara Catta Preta