SEM RIMA E SEM RUMO

Todo dia,
quando eu abro a janela
do décimo nono andar,
pra ver a vida,
um anjo aparece
só pra mim.
Tem vez que ele vem
disfarçado de passarinho.
Conversamos muito.
Ele me fala de horizontes
que eu não sei que existem,
conta como começa o fogo
que acende a aurora,
diz que é uma delícia
patinar no firmamento
e sabe de um lugar indolor,
onde ninguém precisa
de se despedir de ninguém.
Garante que tem um canto
onde se pode aprender
outras espécies de desvarios,
aonde o tempo passa,
mas a gente fica sempre igual
 à nossa cara mais feliz.
Fica me tentando,
o danado.
E tenta me provar
que não há coisa
mais gostosa
que mergulhar no azul.
Já prometeu me ensinar
a navegar no ar,
encher a boca de sol
e cuspir mariposas,
ao invés de marimbondos.
Disse que eu vou
ficar mais aloucada
quando beber o gosto
do sereno da noite alta
e sair por aí,
almiscarando o cheiro das estrelas.
Qualquer dia ele me chama
de novo pra ir com ele.

Eu vou.

                                                                Silvana Guimarães