Perguntas de: Leila Míccolis1 - Onde você nasceu?
Nasci em Santos, litoral de São Paulo.2 - Reside em outro lugar? Qual e por quê?
Nasci e sempre vivi em Santos3 - Solteira/o? Casada/o? Filhos? Fale um pouco sobre o amor na sua vida.
Sou casada e, por enquanto, não tenho filhos. Mas pretendo tê-los. Meu casamento é uma união pautada num profundo respeito mútuo e numa sinceridade e cumplicidade praticamente sem limites. Meu marido é meu companheiro em tudo: nas idéias, nas emoções, nos projetos de vida, divide comigo todas as alegrias e tristezas, todas as dúvidas e todos os possíveis entusiasmos pela vida... É baseado nesta relação de total compartilhamento e congraçamento que vejo o amor.4 - Que livro(s) você editou pela Blocos (nome da obra e ano)
"Tecendo Diários", Poesia, Prêmio Blocos 1999.5 - Quais suas outras ocupações e preocupações, além da Literatura?
Interessante esse negócio de colocar juntas "ocupações" e "preocupações" na pergunta... ;-) Num certo momento, elas se misturam mesmo na minha cabeça. Ocupar-se é preocupar-se... ;-) No momento, estou trabalhando com meu marido e mais um sócio no planejamento de projetos de Comunicação Telemática para internet, buscando adaptar os recursos das novas tecnologias de Comunicação à realidade comercial das pequenas e médias empresas. Paralelo a isto, mantenho minhas pesquisas em Psicologia do Consumidor, aplicando a Psicologia Analítica/Junguiana à Publicidade e Propaganda, área em que me formei..6 - Do que você se arrepende mais na vida? E do que você mais se vangloria?
Não me arrependo de nada, não. Eu me vanglorio da minha "eterna" motivação em querer aprender, querer melhorar, me conhecer melhor, querer ser mais eu no dia seguinte — isto é que faz com que eu não me arrependa do que tenha ou não feito.7 - Como você definiria sua obra?
Absolutamente intimista, procurando revelar todos os meandros da psique feminina, todas as minhas faces pessoais, e todas as faces das mulheres além de mim.8 - Algum esporte? Alguma mania?
Não sou ligada em esportes nem os pratico. Meu esporte preferido é fazer ginástica com os neurônios... ;-) Manias...? Mania de medo de insetos, de retrucar com um argumento que considero melhor numa situação em que minha opinião é contrariada... Mas a minha melhor e pior mania mesmo é escrever. Já era difícil com papel, hoje com computador a coisa complicou mais.9 - Cite seus autores, músicas e filmes inesquecíveis.
Autores inesquecíveis: Cecília Meireles, Clarice Lispector, Adélia Prado. Todas as mulheres que escrevem com a alma feminina. Músicas: são tantas e tantas, eu adoro música... Flamenco, para mim, é inesquecível. E também adoro músicas latinas em geral, principalmente as tradicionais rumbas e mambos da América Central. Filmes: não sou nada cinéfila... os que me vêm à memória agora são "Passageiro do Futuro", "Sociedade dos Portos Mortos", "Silêncio dos Inocentes", "Henry & June".10 - Alguma experiência engraçada, curiosa ou dramática ocorrida devido à algum texto (poesia ou prosa) que você escreveu?
Não me recordo de nada assim.11 - Vida e obra precisam caminhar juntas ou podem tomar rumos diferentes e até contraditórios?
Sim, a meu ver elas NECESSITAM caminhar juntas, não podem se perder de vista. Só assim que considero uma obra legítima, respaldada na própria vida do autor. Não acredito numa obra que não seja fruto das experiências de vida de alguém. Recentemente, li um texto chamado "A legítima literatura deve ser vida", de João Ferreira, que fala justamente disto. Se a obra acontece de ser justamente o oposto do que é seu autor, penso que o autor passa por profundos problemas de identidade. Pode ser que em sua obra ele se permita falar mais de sua vida (ou fala mais sem ter consciência) do que ele mesmo se permite ser... No poema de abertura de meu livro "Tecendo Diários", cujo nome dá título ao livro, falo disto, do autor só ser capaz de escrever sobre o que conhece melhor: "Como saber dar nome àquilo que não conhecemos?/Como escrever sobre algo que não conhecemos?"12 - Entre aquela viagem ou aquele carro que você tanto sonhou e a publicação de seu livro com tiragem de 10.000 exemplares, qual dos dois você escolheria?
Não trocaria 10.000 exemplares por um carro, mas uma viagem dos meus sonhos é algo que me balança bastante. Em outra época escolheria o livro, hoje respondo que prefiro a viagem. Ela, sem dúvida, me daria inspiração e motivação para escrever muito e muito e muito... ;-)13 - Que personagem de ficção você gostaria de ser na vida real?
Tudo o que ainda não vivi é virtual, é ficção. Expressar todos os outros seres que vivem virtualmente dentro de mim seria transformar verdadeiramente o papel, a ficção, em coisa real.14 - Você já cometeu alguma gafe ou indiscrição literária?
Creio que não e, no que depender de mim, espero não cometer. Sou bastante cautelosa quanto a isto..15 - Qual seria (ou será) a maravilha do século 21?
Estarmos todos conectados numa rede telemática viva e orgânica, vivenciando experiências coletivas incríveis — que até então não são plenamente possíveis pois ainda não podemos usufruir em grande escala das facilidades das redes telemáticas/internet e de outras tecnologias de comunicação, que nos ajudam a eliminar as barreiras cartesianas de tempo e espaço tradicionais.16 - Você comemora o Dia Nacional da Poesia ou do Livro? De que forma?
Para mim, dia da Poesia ou do Livro é todo dia. Cada poema escrito, para mim, é uma celebração da Poesia, e toda leitura de livro é uma forma concreta de homenageá-lo..17 - Que autora ou autor você escolheria para ficar a sós numa ilha deserta e por quê?
Gostaria demais de ter a chance de conversar com o psicólogo suíço Carl Gustav Jung, o grande iniciador/criador da Psicologia Analítica. Gostaria muito de discutir com ele suas idéias, teorias e visões de mundo. Sua forma de ver a alma humana é muito mitológica e por demais poética — mitopoética, eu diria.Perguntas de: Fernando Tanajura Menezes
1) O que você gostaria de perguntar a um escritor? (consagrado ou não)
Como você se vê nos seus escritos?2) Como escritor/poeta o que gostaria que lhe fosse perguntado em uma entrevista?
Qual a relação que vê entre Poesia e Mitologia?3) O que mais detestaria que lhe perguntasse se a entrevista fosse ao vivo?
Não sei dizer.Perguntas de: Ricardo Alfaya
1) Por que você escreve?
Escrevo para poder fazer respirarem as emoções, tirar para fora em forma de palavras outras pessoas que não só a Rosy que está a escrever agora.2) O que você considera mais importante para que uma poesia seja classificada como de boa qualidade?
Sua profundidade temática, ver se ela consegue (e como consegue) alcançar a nossa base psíquica coletiva, nosso íntimo tão íntimo que passa a ser universal, conhecido por todos. Se uma obra consegue falar comigo neste nível, além das limitações biográficas de seu autor, percebo nela características de uma obra de arte.3) Que autores influenciaram sua forma de escrever?
Não sei dizer, creio que todos os que já passaram por meus olhos, mãos e ouvidos. Como não ser influenciada por todas as leituras? Não sei se são propriamente influências, mas tenho duas escritoras especiais na memória: Cecília Meireles e Clarice Lispector. A primeira, por conseguir ser leve como quem canta docemente às crianças, ao mesmo tempo que é profunda. E a segunda, pela ousadia em passear literariamente pelos recônditos psicológicos que mal conhecemos.4) Sente o escrever como missão, lazer, prazer ou como conditio para a sobrevivência? Você acha que poderia parar de escrever?
Para mim, escrever é meu lazer, meu prazer, minha missão pessoal e permanente conditio para minha sobrevivência psíquica e espiritual. Talvez, por congregar tudo isto, ela seja para mim tão importante. :-) Parar de escrever? Só quando morrer.5) No seu entender, o compromisso social é uma condição essencial para um bom escritor?
Mais que um compromisso social, creio que o escritor deve estabelecer um profundo compromisso com ele mesmo. Se estiver absolutamente comprometido consigo mesmo, estará naturalmente comprometido com a humanidade e com o que há de mais universal. A meu ver, pensar só em termos sociais é pensar pequeno, é ser mero repórter de fatos datados, e não propriamente um escritor como eu concebo.6) Que influência a Internet exerceu em sua escrita?
A internet (numa continuidade do videotexto do final dos 80 e começo dos 90) me deu a grande possibilidade de estabelecer diálogos poéticos com outros autores, escrevendo a 4, 8, inúmeras mãos. E, com um detalhe: on line, em tempo real. Esta experiência de ação-reação poética, de combinações e justaposições literárias, é maravilhosa! Penso que todo escritor deveria experimentá-la. Além disto, a velocidade das comunicações, principalmente por e-mail, impelem à concisão, a uma objetividade poética, por assim dizer. Devido ao contato intenso com muitas pessoas, muitos poemas meus foram gerados de "conversas de e-mail" (essa nova forma epistolar de comunicação), assim como vários textos surgiram durante a navegação por vários sites. Em meio a esses processos contínuos de interação, a poesia sempre se esgueira, imprevista e inquieta. Cada vez mais escrevo poemas diretamente no computador, às vezes no próprio programa de e-mails. As letras digitadas voam mais rápidas do que as que saem da caneta... e, a bem dizer, a exceção, hoje, é eu escrever em papel.7) Você acha que sua escrita poderá vir a afetar de alguma forma a realidade?
Sim. Toda forma de escrita comprometida com a vida transforma a realidade.8) Que qualidade considera fundamental num escritor?
A sinceridade consigo mesmo e a sensibilidade de perceber os vários véus de Maya que encobrem, com nuvens, nosso cotidiano.9) A crítica literária ajuda ou atrapalha?
Ajuda, ao divulgar em larga escala na mídia trabalhos de autores, sejam eles consagrados ou novos. E atrapalha, quando busca submeter textos fora do padrão de seu tempo e lugar a fôrmas ideológicas e estéticas já desgatadas, anacrônicas e/ou subjetivas, que serviram a outras épocas ou que se encaixam perfeitamente ao manequim literário de certos autores, e não de todos.10) É notório que existe uma quantidade enorme de escritores, sobretudo no campo da poesia, em detrimento do número de leitores. A grande quantidade é para você um incentivo ou um desalento?
Acho o máximo ver um monte de gente fazendo literatura nos dias atuais. A internet é a grande facilitadora contemporânea da literatura, por mais que as mentes conservadoras digam o contrário. Toda essa gente só me estimula, é um alento enorme. São um público-alvo maravilhoso, com quem posso compartilhar meus textos e até escrever em parceria.11) O que acha que poderia ser feito, se é que poderia, para que mais pessoas se interessassem pela literatura?
Divulgar o trabalho dos autores contemporâneos junto aos jovens que ainda não sabem que podem vir a ser, eles também, novos autores. Em parte, as pessoas não se interessam em ler literatura pois muitas vezes a associam, viciosamente (condicionadas pela Escola e pelos críticos literários de primeira grandeza), a autores do passado, acreditando que os antigos nada têm a dizer aos jovens de hoje. É preciso criar um "link" entre o que se faz hoje, em literatura, e os clássicos escritos por expoentes de outras épocas, estabelecendo um vínculo emocional e de sentido entre passado, presente e futuro.12) Que ambiente você prefere para escrever?
Se estiver sozinha, é uma ótima pedida, um convite a escrever a qualquer hora do dia. E cada vez mais sinto falta da rapidez dos dedos sobre o teclado... a caneta se parece cada vez mais lenta e pesada... Vamos dizer que um computador portátil sobre a cama, eu no quarto, sozinha, à noite, seria perfeito. [risos].13) Manhã, tarde, noite - Existe um horário que lhe seja mais propício ao escrever ou isso lhe é indiferente?
Noite, sem dúvida alguma! Sei escrever melhor e mais livre à noite. Até meus poemas falam dela... [risos] Escrevo, de preferência, antes de dormir. Espécie de assepsia ou oração, talvez.14) Você utiliza algum artifício que o induza a um estado de espírito favorável à escrita?
Escrever ouvindo música é particularmente agradável. No mais, só o artíficio de me livrar das obrigações cotidianas, a fim de deixar fluir melhor o que quero expressar no momento.15) O que é melhor: escrever ou ver publicado?
Escrever, sem dúvida! Ambos estão intimamente relacionados, claro, pois quem escreve com o firme propósito de escrever quer ser lido, e quer ser lido por outro que não ele mesmo. Ver nossos trabalhos publicados dá uma sensação especial de concretização, de obra feita, passível de ser compartilhada e comentada. Mas, ainda assim, fico com a necessidade de escrever.16) Escrever em computador, à mão ou em máquina de escrever. Faz diferença para você?
Já respondi, mas reforço: escrever em computador possibilita uma velocidade de expressão que não tenho à caneta, e esta é a grande diferença para mim. A máquina de escrever já aposentei há tempos, não quero mais saber dela. Hoje fico entre os dois extremos, a caneta e o computador. Quando escrevo à caneta, coisa rara, sinto insatisfação por tudo aquilo que me passa em idéia enquanto estou a garranchar... É como se no computador eu conseguisse correr mais atrás das letras, a tempo de alcançá-las e capturá-las em textos. E isto acaba sendo um círculo vicioso delicioso: quanto mais fácil e rápido é escrever no computador, mais eu escrevo. O computador, hoje, é meu grande aliado literário.17) Qual a pergunta que você gostaria que eu lhe tivesse feito e que não fiz?
A habilidade em fazer literatura é equivalente à habilidade da crítica? Em outras palavras, quem é hábil para escrever também é potencialmente hábil para criticar trabalhos de terceiros?