Eu soube do falecimento
de Otávio Ianni por meio de telefonema de Renan Freitas Pinto. Renan
foi seu aluno e amigo. Escreveu uma tese sobre Florestan Fernandes, que
deve ser publicada. Orientada por Ianni.
Creio que fui um dos
primeiros a anunciar a perda.
E um dos poucos. Até
o momento em que escrevo, não li nada escrito na grande imprensa
a respeito. No dia que anunciei, dois dias depois da morte, não
encontrei nenhuma notícia que me confirmasse o fato. Temi estar
divulgando uma notícia errada, uma mentira. Tive vontade de telefonar
de novo para o Renan, pedindo maiores detalhes.
No dia seguinte, encontrei
uma notícia. No site do MST, o Movimento dos sem Terra. Aí
compreendi tudo. Um muro de silêncio cercou o caso.
Logo após li
notícia vinda de Cuba (!), de Havana, a 5 de abril. De um jornal
de lá. O título dizia: "Morre um dos maiores sociólogos
brasileiros".
Curioso como o obituário
é revelador. Certa vez, num mesmo dia, morria Henriqueta Lisboa
e Orson Welles. A morte de Welles saía na primeira página
do jornal. A de Henriqueta era apenas uma nota paga no obituário.
E não é
uma questão ideológica. A morte de Pedro Calmon, tido como
homem da elite conservadora (o que não concordo, pois o conheci),
não ocupou nenhuma manchete. Ficou no obituário.
Não conheci
pessoalmente Otávio Ianni.
Ele faleceu no dia
4 de abril, aos 77 anos. Era professor emérito da Universidade de
São Paulo. Foi sepultado na cidade de Itú.
Professor em várias
universidades brasileiras e no exterior, no México, Estados Unidos,
Espanha e Itália. Nos últimos anos orientava seus alunos
e pesquisadores no Instituto de Filosofia e Ciência Humana da Universidade
de Campinas.
Ele sofria de leucemia
havia algum tempo e finalmente estava internado no hospital Albert Einstein.
Além de professor
aposentado da Universidade de São Paulo (USP), foi professor emérito
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), docente visitante da Universidade
de Columbia, em Nova York. Teve os direitos políticos cassados pelo
regime militar em 1969, quando passou a dar aulas no Exterior. Voltou ao
Brasil em 1977, tornou-se professor da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP).
Era marxista. Estudou na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo, onde foi discípulo de Florestan Fernandes.
Escreve muitos trabalhos,
entre os quais: Homem e Sociedade (1961). Metamorfoses do Escravo (1962);
Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil (1963);
Política e Revolução Social no Brasil (1965); Estado
e Capitalismo no Brasil (1965); O Colapso do Populismo no Brasil (1968);
A Formação do Estado Populista na América Latina (1975);
Imperialismo e Cultura (1976); Escravidão e Racismo (1978); A Ditadura
do Grande Capital (1981); Revolução e Cultura (1983); Classe
e Nação (1986); Dialética e Capitalismo (1987); Ensaios
de Sociologia da Cultura (1991); e a Sociedade Global.