Direis, ó Caminha:
"... Pois muitas vezes mais cruel é
o contar do que o acontecido."
Ora que foi! Pois, pois!
Cá estamos livres no refletir, no furtar
e no roubar.
Especialistas em verbos penais. Aos ricos
sem penas anais.
Ora que são! Ladrão, ladrão!
Cá estamos Senhor do Bonfim, à
sua vontade coronel. Sim, sim.
Especialistas em queda-de-braço. Aos
ignorantes da merda o pedaço.
Ora que não! Escravidão, escravidão!
Cá estamos na infância do jardim,
ao primeiro grau por gentileza, enfim.
Especialistas em política de fome.
Por seu voto um pão, tome.
Ora que virão! Irmão, irmão!
Cá estamos senhor 500 anos, Deus é
pai, amém, ai, ai.
Especialistas em rezar da esperança.
Saravá, em eterna aliança.
Ora que sim! Pobre de mim!
Cá estamos novamente ao mar, tudo de
novo, onze naus a navegar.
Especialistas em descobrimento, descubra-nos,
nova o momento.
Ora que caminha! Falas ó Caminha:
Cá estou meu rei, falo, falo por tudo
que sei.
Especialistas em nudez, tetas, em bundas,
vivendo em fugaz surdez.
Direis, ó Caminha:
"... Não posso dizer se é ilha
sem ver o coração, nem sim, nem não."
Auriverde pendão da outra terra
que a ventania varrerá outro dia
Aí, como é lindo aquele país!
O nosso já teve o diagnóstico
da
psiquiatria em forma de poesia
É o poeta alienado que é feliz
cantando coisas que sempre quis
Um, dois, três, quatro, cinco, mil
Pátria amada do coronel e rei senil
de peito aberto a fome ninguém aguenta
jogaram-nos fora e criaram a placenta
Aí, como é lindo aquele país!
Se o médico receita um placebo
o advogado faz do livro um sebo
Todos pensam que a justiça alimenta
enquanto ela do juiz é uma jumenta
O poeta canta o que sempre quis
e a moça faceira se faz de tonta
O povo burro continua pagando a conta
e ao final canta rebolando que é feliz
Aí, com é lindo aquele país!
Não vou me mudar para aquele lugar
Lá o vento forte varrerá outro
dia
não restará pedra sobre pedra
é a natureza brava sem poesia
Aqui tem mar, campo e futebol
muita praia e bunda sob o sol
Lá tem neve, borrasca e tufão
Safadeza, lá também se mete
a mão
Aí como é lindo o meu país!
O ufanismo é tanto que penso
Que sou feliz!
Douglas Mondo