A intenção
deste manifesto é tornar público nosso descontentamento com
o projeto "Brasil 500 anos — Mostra do Redescobrimento". Dentro de uma
exposição de arte, falar sobre arte é o mais importante.
Nessa exposição, a arte é rebaixada ao segundo palno
e utilizada como pretexto para validar e vender um espetáculo
rico e pomposo, como se fosse essa realidade do Brasil e pudéssemos
apresentar-nos assim. Estamos enfrentanto sérias dificuldades, estamos
descontentes, essa é nossa realidade. Nào estamos vivendo
um espetáculo! Precisamos de melhores condições, inclusive
para podermos produzir e consumir arte. Sejamos sinceros!
Está tudo parado,
viciado. Imobilizado em todos os planos. E no plano da cultura e das artes,
essa situação torna-se evidente nessa exposição.
A arte está sendo congelada no tempo e no espaço, seu movimento
está contido, seus limites determinados. É preciso desviar
o curso, alimentar a criatividade deste país. A maneira como essa
exposição foi concebida representa a própria estagnação.
Para que utilizar-se de outros meios para ativar a percepção
que não a própria arte? Para que induzir o olhar do público,
enquadrar e dlimitar em uma leitura única e linear através
da cenografia? A obra de arte fala por si mesma, não precisa de
meditação; as relações artista/ obra/público
devem ser livres, para que haja criativdade e enriquecimento dessas relações.
O olhar, a percep[cão são únicos para cada um e não
únicos para todos. Não pode haver verdade oficial! E menos
ainda uma verdade que nivele por baixo: a cenografia apela para um choque,
um susto perceptivo que fala mais alto e rouba espaço. A arte em
si vira objeto de cena!
Claro, é preciso
que o público seja atraído pela arte. Mas que seja atraído,
que a atitude, a vontade, a necessidade partam dele e que, assim, haja
uma relação efetiva. O interesse por arte não
pode ser imposto, deve ser conquistado! Então, porque não
investir na base, nos alicerces desta relação; porque não
investir em alimentação, saúde, educação,
e também, na cultura; permitir que as pessoas possam ser
livres ao exercerem seus papéis como seres huimanos? Nào
é possível que se invista tanto dinheiro em um único
evento, equivocado e efêmero. O diálogo deve se estender até
o futuro e, para tanto, a arte não pode ser entendida como produto
descartável, como mercadoria.
Este é um momento
para refletirmos e transformarmos, não para nos acomodarmos e perpetuarmos
a estagnação. Entendemos que não há motivo
para comemorar os 500 anos sem parar para refletir: Por quê 500 anos?
Que 500 anos são esses? Comemorar significa considerar que nossa
história, desde a colonizaçào até hoje, foi
um sucesso? Nossa "história oficial" começou com uma população
sendo dizimada. Não podemos romantizá-la, confortando-nos
com nossas supostas "belezas". Estamos acobertando a dominação
e os problemas políticos, econômicos, sociais e culturais
que aqui no Brasil imperaram e imperam; sempre!!!
Grupo Atuação
micomico@cade.com.br