FMI quer ampliação do ajuste fiscal - Zero Hora/RS
FMI acha desvalorização exagerada - Correio do Povo/RS
Governo abre guerra contra especuladores - Gazeta do Povo/PR
Vice do FMI vem ao país revisar acordo - Folha de São
Paulo/SP
Diretor do FMI chega hoje para discutir acordo - O Estado de São
Paulo/SP
FMI cobra ao governo política monetária com credibilidade
- Jornal do Brasil/RJ
FMI pedirá ao governo novas medidas de ajuste fiscal - O Globo/RJ
Até onde vai o pânico - Revista Veja
De olho na crise - Revista Isto É
Estas são as manchetes dos principais jornais e revistas de hoje, dia 01/02, uma segunda-feira. Enquanto venho para o trabalho, ouço as rádios com as mesmas notícias em destaque. Entrevistas com economistas da oposição e posição, detalhes do plano econômico, vinda de técnicos do FMI etc. Aliás os técnicos do FMI mais parecem aqueles chatos que chegam na sua casa e vão logo abrindo a geladeira pra saber qual a sua situação financeira. Por sinal, a geladeira do Brasil está vazia.
Estava com um colega, que não é graduado nem nada, na mesa de um bar no fim de semana. Ele começou a perguntar o que eu achava da tal cotação do dólar, o que isso tinha a ver com o chopinho que estávamos tomando. Não me formei em Ciências Econômicas para ser "achólogo". Muitos pensam que tenho resposta pra tudo. Até tenho, mas minha paciência já esgotou. Sempre as mesmas coisas, vai melhorar depois de um grande vendaval. Será?
Há exatamente 100 anos, o presidente Campos Sales - mandato de 1898-1902, assumiu o cargo com alguns problemas, das quais teve as principais medidas:
· preocupou-se principalmente com as finanças do país, abaladas não só pelas conseqüências do encilhamento (*) como também pela agitação política. Para a execução de sua política financeira, negociara com banqueiros estrangeiros um acordo denominado Funding Loan, pelo qual ficavam suspensos durante algum tempo os pagamentos de juros dos empréstimos anteriores, contraindo-se, para isso, novo empréstimo.
· tomou medidas de compressão de despesas e aumento de
impostos. Tal fato, agravou a dependência de capitais
estrangeiros, que passam a controlar grande parte da economia
nacional.
· e, para tranqüilidade de sua administração,
organizou a chamada "política dos governadores", nada mais
era que os senadores e deputados correligionários dos governadores
dos Estados teriam amplo prestígio junto ao Governo Federal. Em
troca o apoio dos governadores estaduais na execução da política
geral do país.
Exatos 100 anos. Não é possível que em 100 anos não conseguimos aprender, ou resolver os mesmos problemas. Entra governo e sai governo, é o mesmo nhém, nhém, nhém (qualquer semelhança não é pura coincidência) de sempre. Ficamos aqui em baixo esperando que tudo melhore. Não melhora. Sabe-se a mais básica conta de matemática. Se você ganha 50, não pode gastar mais do que 50, porque você não tem. Elementar. Não para o governo. 100 anos atrás, já gastava mais do que arrecadava. Claro, com a retórica de sempre.
Se sabemos qual o problema, é só resolvê-lo. Simples. Pelos mesmos motivos políticos de 100 anos atrás, não acontece. O que acontece é que as pessoas que deveriam trabalhar para isso, o tentam fazer de terça à quinta-feira. Não conseguem. Então, convocam sessões extraordinárias, que aliás é um bom negócio, pois têm um salário mais gordo no final do mês. Não conseguem. Aí, em plena crise financeira, numa segunda-feira, eles vão até o Congresso Nacional tomar posse, os novos e os velhos, com uma festa de arromba. E que festa. Extravagante.
E nós? Meros espectadores? Eu quero acreditar que a cada pleito eleitoral e mandato, uma nova consciência política está surgindo. Quero acreditar. O dia a dia me mostra a verdade. 100 anos assistidos por uma população que não se mostra interessada. Não é simplesmente votar e esperar passivo o que os outros decidam sobre sua vida. Mobilizar, exigir, ampliar os direitos do cidadão. Voto e mobilização. Se complementam.
Pois bem, tento explicar para o meu amigo como funciona a economia.
A cotação do dólar, o Banco Central, Bolsas de Valores,
especuladores, exportações e importações. Ele
fica me ouvindo atentamente. Me interrompe. "Vamos pedir mais um chope?"
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(*) Período de agitação financeira
logo após a implantação da
república no Brasil, caracterizado pelo
grande movimento de especulações bolsistas e negócios
arriscados.
Fredy Romano
SP, 01/02/99