Quando era criança
ouvia meu pai comentar sobre um país novo que se iniciaria.
Fortaleza, progresso
e cultura viriam a ser a base desse crescimento.
Eu pertencia
a uma família de políticos e nela cresci sentindo toda espécie
de esperança para um país, que pretendia
evoluir progressivamente.
Hoje, tantos
anos depois, ouço com descrença em outras palavras os mesmos
gritos de otimismo.
Só que
a maturidade me faz entender de forma diferente e a desilusão por
tantos sonhos cívicos malogrados traz com
ela a decepção e a desesperança;
Só que
hoje não existe mais a boa fé, a bondade e o espírito
de união que contornavam os caminhos de gerações
anteriores;
Só que
não vemos mais o sorriso sincero e a vibração que
nossos antepassados carregavam gloriosamente no peito;
Só que
hoje o medo tomou conta da população e os assaltos campeiam
as ruas outrora tranqüilas e benfazejas;
Só que
as pessoas se defendem uma das outras como se desconfiassem de cada semelhante
seu;
Só que
as drogas deixam seqüelas imensas nos nossos jovens, transformando-os
e tornando-os agressivos e tristes;
Só que
boa parte de nossos políticos não se preocupam com a população
que carece de confiança e não acredita em
quase nada;
Só que
a honestidade e justiça são sentidos como algo desconhecido
e totalmente ultrapassado;
Só que
os valores foram invertidos, a consciência sofreu imensa elasticidade
e quase ninguém se interessa pelo seu
semelhante;
Só que
as coisas sérias constituem motivo de galhofa, porque as pessoas
estão tão descrentes que não querem criar
expectativa crendo em algo que possa decepcioná-las depois;
Só que
a violência impera, o autoritarismo domina de uma forma velada e
as pessoas ficaram sem os direitos estáveis;
Só que
apesar das evidências, ninguém reage e não temos nem
remotamente a imagem de um líder que possa
impulsionar as pessoas;
Só que
antes eu via com olhos brilhantes o entusiasmo de toda uma população
e atualmente com olhos marejados de
lágrimas assisto impotente à vitória dos interesses
pessoais de algumas pessoas que nem sequer tem vontade de sonhar, quanto
mais de atingir uma realidade renovadora, consciente, democrática
e leal.
No país
Novo que idealizei em minhas quimeras juvenis, apareciam cidadãos
conscientizados em seus próprios direitos
cuja cidadania seria algo inquestionável e profissionais quer
fossem políticos, médicos ou professores voltados para o
bem das
pessoas e preocupados cada vez mais no saber e em pesquisas elucidativas
e descobertas que abrissem caminhos a valores
intrínsecos.
Não vejo,
entretanto um País Novo mas um velho país, já combalido,
embora relativamente jovem, em cujos alicerces
frágeis não temos coragem sequer de apoiar-nos com medo
de despencarmos inexoravelmente.
Esperamos, apesar
de tudo, um Novo País em cujas estruturas nobres e retas não
o jovem de ontem que não tem mais
tempo, mas que pelo menos o de hoje possa usufruir um futuro próximo
e mais feliz.
Esses jovens
precisam se imbuir do verdadeiro espírito de cidadania. E cidadania
é ser respeitada, é fazer valer seus
direitos e cumprir suas obrigações para com os estados
e os outros cidadãos, que como eles também tem direito à
verdadeira
cidadania.
No dia em que
todas as pessoas entenderem como é isso é primordial para
conservação e harmonia da própria vida,
todo poderemos caminhar em paz cercado de direitos, deveres, liberdade
e tranqüilidade, sem os quais a legitimidade da vida
e a felicidade não serão possíveis.
Viver num país
com cidadania é pelo menos ser um cidadão cuja integridade
é preservada no sentido lato da palavra.
Um país
novo! É o que esperamos para nossos filhos e netos e então
poderá brilhar uma luz que não se apagará nunca.
Vânia Moreira Diniz