BRASIL, 500 ANOS

          Novo milênio tá ai. 500 anos do descobrimento do Brasil, 500 anos de evangelização, também. Parceria entre  “Poder e Igreja”.  No momento em que o País atravessa uma grande crise política, financeira e social, uma grande festa está sendo preparada, convidados nobres estão sendo esperados, muita pompa e gastos com o dinheiro público. Dinheiro que poderia servir para criar empresas e gerar mais empregos. São milhões de reais que irão ampliar ainda mais, o endividamento da Nação. Como filhos desta terra de  “Santa Cruz”, como cristãos, temos que refletir e questionar:  Será que os verdadeiros donos da festa  serão convidados ? Ou será mais uma farsa e uma forma de esconder a verdade ?
         Nesses 500 anos de  “poder e evangelização”, vimos uma igreja caminhando ao lado dos dominadores. Muito se falou em evangelização, mas pouco se fêz, até que a igreja descobrisse a sua real missão, a partir do  “Concílio Vaticano II”. O que aconteceu até então, pura hipocrísia, atitudes semelhantes à prática dos fariseus.
         São 500 anos de opressão, massacres, exclusão, injustiça social, roubos. As riquezas da terra sendo levadas pelos descobridores, o povo explorado, humilhado, tendo como prêmio a perca da dignidade e da própria identidade. Isto no passado, não tão distante. E hoje ? Porque tantas  “CPI’S ? Como estamos vivendo, será que somos um povo realmente livres? Qual o real papel da igreja em nosso meio ? São tantas perguntas e nenhuma resposta. Mas, parece que a igreja está acordando, tanto é, que a Campanha da Fraternidade traz para nós o tema:  “Dignidade Humana e Paz” ,  como lema:  “Novo milênio sem exclusões”.
         É bom ressaltar que somos  “santuário vivo” , e que muitos chegam a morrer em defesa dos oprimidos, pobres, indios e marginalizados. No entanto, está para acontecer a festa do “século”. Para que tão grande evento pudesse acontecer, primeiramente, teríamos que aprender a amar nosso semelhante, a dizer a verdade, para que houvesse paz. Paz que só pode suceder vinda do amor, da justiça.
         500 anos de sofrimento. Assim não dá. Estamos vendo corações dilacerados pela dor da humilhação, da falta de dignidade, do desemprego, da desigualdade, da discriminação e tantas outras situações.  São tantos rostos desfigurados, rostos que não são enxergados, simplesmente porque não é conveniente enxergá-los.
         Falta pão em tantas mesas, no entanto, o que se prepara é uma comemoração digna dos  “faraós”. Que os 500 anos sirvam para reflexão, não só para as autoridades constituídas, mas também para a igreja, que ela, reconhecendo seu erro do passado, adote uma postura  mais firme no sentido de resgatar a dignidade humana e promover a paz de que tanto necessita o nosso povo tão sofrido e cansado. “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”.

Wilson Carlos Roberto
28/03/2000