Brasil — País
do Futuro???!!!
Quem de nós, já não usou e abusou desta máxima?
Em qualquer discurso, o lastro do futuro permeia esperanças e adorna
lábios, seja na conversa do botequim de esquina, seja no vernáculo
de "versados" políticos ou nos bancos acadêmicos. Acostumamo-nos
a espiar de longe e a sonhar com este País que se propala como promessa
em um lugar, onde nossos olhos não alcançam. Moldamo-nos
a apenas imaginar em nosso palato, o sabor de algo que sempre estará
além do que poderemos degustar. Um merecimento que parece não
nos pertencer. Como é do futuro, ainda que nossos passos corram
apressados, não trilharão as alamedas deste decantado Nirvana.
Infelizmente, nossa memória é débil e desconsidera
os processos da evolução histórica. Nossas lentes
captam avidamente os escândalos do momento que só permanecem
em nosso foco até que um outro surja. Não raro, nossos olhares
se perdem nas alegorias do "País tropical, abençoado por
Deus e bonito por natureza".
Mãos ainda continuam silenciosas, enquanto loucos sonhadores
vão tingindo de novas cores este País. Não basta mais
a indignação, a constatação ou a reprodução
da culpa. Não é mais suficiente justificar nosso atraso cultural
pela colonização ou a nossa lancinante miséria e equivocada
distribuição de renda pela irresponsabilidade dos que governam
este País. Não é mais aceitável a retórica
que se utiliza da nossa jovialidade, para referendar nosso processo capenga
de desenvolvimento sócio-econômico e político. Não
se pode mais atribuir apenas ao outro, o ônus do que também
nos cabe, enquanto construtores da nossa história. Perder-se na
máxima que elege os que detêm o poder como artífices
do caos em que vivemos, não é mais razoável. Somos
nós a determinamos em que tipo de país queremos viver. Somos
nós que edificamos estruturas sólidas ou apodrecidos alicerces
para sustentar o cenário em que respiramos e exercitamos nossa cidadania.
Assumamos nossos papéis. Apenas gritar na atual conjuntura é
muito pouco. Nós faremos mais, quando descobrirmos que podemos e
somos mais. E que isso não seja uma atitude para o futuro. Nossa
responsabilidade está no presente. O amanhã será a
fotografia das cores que tivermos coragem de misturar, ainda que precisemos
de muitas telas e tintas.
Nandinha Guimarães