CIDADES BRASILEIRAS
Ode à cidade

O verde se evola no ar.
A areia
           branca
                      me foge entre os dedos.
Poalha de estrelas
                            que o céu destila.
Caminhos que se bifurcam:
                                        artérias
de um coração multiplicado.
Vôo pelas ruas
                      com os olhos
brilhando de memórias.
Árvores e casas e homens
                                        mergulham
por mim a dentro.
Os rastros de meus pés permanecem
alheios ao tempo
                         que se escoa.
Os limites se esvaem
                                da bússola
ou da palma da mão.
Em meu peito pulsa
                              o pulmão do universo.

( No centenário de Bauru, agosto de 1996)
 


 
Pousada dos Dous Córregos

A carreta se arrasta pelas grotas
e entoa uma cantiga de saudade
que monótona ecoa na memória.

Bois sonolentos crescem pelos vales
e uma antiga paisagem se levanta
pintada na linguagem das quimeras.

Suave melancolia na garganta
lembra graves palavras de água e terra.

Nas ventas há um líquen peganhento,
seiva sugada nas auroras claras
quando se apagam as estrelas trêmulas.

Os dentes encantados pelo feno,
ruminam a infância destroçada
os animais desse presepe ausente

                                           José Carlos Mendes Brandão