CIDADES BRASILEIRAS
As vielas

Serei o vosso Poeta, oh becos e vielas!
Ainda Poeta nenhum decantou a humildade
do passado longínquo da cidade.
Ruazinhas sem nome...

— Viveis das minhas emoções nos íntimos refolhos,
tristes ruas sem luz, onde há miséria e míngua e fome,
e onde o pranto é perene à flor dos olhos.

Famintos cães-sem-dono fuçam nos monturos,
à hora queimante do meio-dia,
ou dormem tranqüilamente pelas soleiras das portas.

Mas quando a noite baixa, e o luar branqueja os vossos muros,
cai sobre vós a névoa da Melancolia:
sois ruas-aquarelas, ruas-águas-mortas.

                                                                   Enrique de Resende

Do livro: "Passagem para a Modernidade", de Joaquim Branco, Instituto Francisca de Souza Peixoto,  2002, Cataguases/MG