CIDADES BRASILEIRAS
SÃO BOM JESUS DE MATOZINHOS
(Em Vila Rica)
Nostre Seigneur tel est, tel le confesse.
Em   ceste foy je vueil vivre et mourir
F. Villon


              A José Severiano de Resende, Presb.

S. Bom Jesus de Matozinhos
fez a Capela, em que o adoramos,  (*)
no meio de árvores e ramos
para ficar perto dos ninhos.

É como a Igreja de uma aldeia,
Tão sossegada e tão singela...
As moças, quando a lua é cheia
Sentam-se à porta da Capela.

Vai-se pela ladeira acima
Até chegar no alto do morro.
Tão longe...mas quem desanima.
Se Ele é o Senhor do Bom-Socorro!

Tem tanto encanto a sua igreja,
paz que nos é tão familiar,
que é impossível que se não seja
um bom cristão em tal lugar.

Alegrias mais que terrestres
Murmuram hinos pelas naves.
No adro, quantas flores silvestres...
Nas torres, quantos vôos de aves...

E atrás da Igreja o cemitério
Floresce cheio de jazigos.
Os próprios mortos, que mistério!
Vivem na paz de bons  amigos.

Quando o jubileu se aproxima,
Ai! ...quanta gente sobe o morro...
Tão longe...mas quem desanima,
Se Ele é o Senhor do Bom-Socorro!

Velhas de oitenta anos contados
Querem vê-lo no seu altar.
Braços abertos, mas pregados,
Que nos não podem abraçar.

Entrevados de muitos anos,
Vão de rastros pelos caminhos
Olhar nos olhos tão humanos
De Bom Jesus de Matozinhos.

Saem dos leitos, como de essas,
Espectros cheios de esperança,
E vão cumprir loucas promessas,
Pois de esperar a fé não cansa.

Vinde, leprosos do grande ermo,
Almas que estais dentro de lodos:
Que o Bom Jesus recebe a todos,
Ou seja o são ou seja o enfermo.

Almas sem rumo como as vagas,
Vinde rezar, vinde rezar!
Se Ele também tem tantas chagas,
Como não há de vos curar?

Direis talvez: “Chegar lá encima...
Antes de lá chegar eu morro!
Tão longe...” Mas quem desanima
Se Ele é o Senhor do Bom-Socorro!

Foi pelo meado de Setembro,
No Jubileu, que eu vim a amá-la.
Ainda com lágrimas relembro
Aqueles olhos cor de opala...

Era tarde. O sol no poente
Baixava lento. A noite vinha.
Ela tossia, estava doente...
Meu Deus, que olhar o que ele tinha!

Ela tossia. Pelos ninhos
Cantava a noite, toda luar.
S. Bom Jesus de Matosinhos
Olhava-a como que a chorar...

                                               Alphonsus de Guimaraens
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(*) N.E.: É na Igreja do Bom Jesus de Matozinho, em Congonha do Campos que estão os Doze Profetas de Aleijadinho, no adro.