GLAUCOMATOPÉIA [#20]

[1] Muito se fala do pênis ou, por outra parte, da vagina (como acabamos de fazer no capítulo anterior), mas quase nada se fala do saco escrotal. Se o pênis tem conotações positivas ou enfáticas (algo é "do caralho" ou bom "pra cacete", por exemplo), o escroto é o próprio sinônimo daquilo que não presta ou, quando o termo é "saco", de tudo que aborrece ou irrita. Hoje nosso mote será o saco, mas não vou usar o gancho natalino de que até o Papai Noel estaria de saco cheio, pois seria mero oportunismo.

[2] Justamente em cima da noção de imprestável foi que o imortal Moysés Sesyom, patrono dos glosadores potiguares, encarnou alguém que, devido talvez a algum mal venéreo ou inflamatório, já está cheio do próprio saco e rende-se ao que está rendido. Interessante notar que, no segundo dos motes abaixo, o termo "caber" se emprega no sentido inverso, de "comportar" e não de "ser comportado", coisa que, evidentemente, corrigi em minhas glosas. Eis os casos sesyômicos:

EU FIZ UM SACO DE MEIA
PRA SUSPENDER OS COLHÕES!

Senti grossa a cordoveia;
Quando vi, fiquei doente!
Apressado, incontinente,
Eu fiz um saco de meia.
Depois da bruaca cheia
Suspendi por dois cordões,
Senti doer os tendões
Onde a mulher tem tabaco.
Eu não tenho, uso meu saco
Pra suspender os colhões!
 

NO SACO QUE EU SEMPRE USAVA
NÃO CABE(M) MAIS OS COLHÕES!

Por esta não esperava!
De tristeza estou carpido!
Hoje vi: está perdido
O saco que eu sempre usava!
Foi uma sentença brava
Para tirá-la em grilhões!
Porém alego as razões
Para as quais tenho de sobra:
O saco deu uma dobra,
Não cabe mais os colhões!

[3] Logicamente adotei a postura xibunguista também nestes casos, recorrendo tanto à fantasia masturbatória quanto à reminiscência vivenciada. Eis como ficam minhas versões da sacação sesyômica:
Cheiro de pé saboreia
Quem tem tara igual à minha:
Do moleque da vizinha
Eu fiz um saco de meia!
Cafungar nele tonteia,
Mas não basta: outras funções
Tenho junto aos meninões...
De boca seus paus ataco;
De língua brinco no saco,
Pra suspender os colhões! [8.54]

Minha língua esfrega e lava
De cabo a rabo uma pica!
Meu limite já não fica
No saco que eu sempre usava!
Há muito mandei à fava
Posturas e convenções:
Mesmo o cu dos marmanjões
Eu lambo pra lá da beira!
Só se engulo a rola inteira
Não cabem mais os colhões! [8.55]

GLAUCO MATTOSO
Poeta, letrista, ficcionista e humorista. Seus poemas, livros e canções podem ser visitados nos sítios oficiais:
http://sites.uol.com.br/glaucomattoso
http://sites.uol.com.br/formattoso