GLAUCOMATOPÉIA [#51]

Hoje escolhi mais um exemplo do meu sonetista paulista favorito (ao lado de Guilherme de Almeida), Martins Fontes, desta vez abordando um tema difícil e arriscado: o satanismo. Fontes se coloca na mais comprometedora das posições, a do adepto, ao que acrescento meu soneto mais diretamente conexo:


DIABO [Martins Fontes]

Mestre! o meu preito estridoroso! Mestre!
Lúcifer, Belzebu, Satã, Mefisto!
Que eu nas malícias que tu tens me adestre,
E celebre o teu nome, Trismegisto!

Embora a inveja inane te seqüestre,
Prestigitador, mago imprevisto,
No teu cenário alquímico terrestre,
Fagulhejas no eflúvio do flogisto!

Mistagogos basbaques, ou tribunos
Boquiabertos, assombra o heterogêneo
Dos teus passes e rasgos oportunos!

Bravo! Atiro-te estrelas no proscênio!
Que seria de nós, os teus alunos,
Sem a flama escarlate do teu gênio?
 

SONETO 175 DEMONOLÓGICO [Glauco Mattoso]

Alguém tem dom de pôr o crente em pânico.
É o Anjo Mau; é o Bode; é o Belzebu;
É o Lúcifer; é o Príncipe; é o Exu...
Como denominar o Ente Satânico?

Diversos gestos têm poder xamânico.
Diversas liturgias são tabu.
Mas no Sabá se beija bem no cu,
que é o ponto donde sai o odor titânico.

Do "beijo negro" já falei há pouco,
um ato que envilece o executante,
mas deixa quem o ganha quase louco.

A própria felação, sempre excitante,
capaz de provocar gemido rouco,
não é, para Satã, tão importante...

GLAUCO MATTOSO
Poeta, letrista, ficcionista e humorista. Seus poemas, livros e canções podem ser visitados nos sítios oficiais:
http://sites.uol.com.br/glaucomattoso
http://sites.uol.com.br/formattoso