Poemas inéditos de Renata Pallottini
                      (envio e autorização da autora)
 
LAVAR

Lavar copos e xícaras.
O meu
sem propriedade.

Com um domínio do corpo e do objeto
que só te dá
a maturidade.
 
 

VIAGEM

Faço uma viagem
quase sem sentido.
Preparo a bagagem.
Mas por que motivo?

Nada me motiva
salvo um emotivo
grave coração
que me olha nos olhos
e diz: tens razão.

Vai e sem motivo.
Antes sim que não.
 
 

PROJETOS

Chuva de ouro e sonhos
mal cortadas
as rosas.

Tanta coisa, na vida,
defeituosa!

 
LONGE

Estão passando caminhões na estrada.
Me pergunto, pra onde estarão indo?
Para que norte, para que morte,
para que destino?

Que amores levarão na sua cabine
que amores levarão
no coração?

Passam os caminhões e às vezes buzinam.
Para onde vão?

 NOITE

Voltar pra casa
a noita ganho o jogo

os cães se lambem
só não sei falar

aceito a noite
clara de novembro

há alguma coisa
de que não me lembro
 
 
 

AS MENINAS DA RUA 17

Chegavam silenciosas, noite alta,
comboiando o estrangeiro
faminto de alma.
Depois, no quarto ao lado,
com homens variados,
faziam explodir os seus gemidos
que ouvíamos sorrindo, sussurrando belezas.
Era a sua verdade?
Era tanto o prazer?
Gemiam por prazer
Ou por delicadeza?

De manhã tomavam banho,
um pão com leite e mais nada.
O piso úmido falava
com vestígios
e pegadas.

Nunca lhes vi bem a cara.
mas que importância tem isso?

Só tinham a ver comigo
na medida em que era tanto
seu ser simplesmente humano.

E que eu tinha um par de tênis.
E que elas tinham
vinte anos.
 

 Sobre  a obra da autora, clique aqui para ler o texto de Samuel Penido.
 
página criada em 14/04/98.