sINAL
olhe, moço,
eu de novo a desconcertar seus nervos executivos,
crente em conseguir um troço
melhor
na vida.
desculpe-me.
o melhor da vida é o troco,
o resto da melhor das intenções,
já imaginou um hambúrguer?
muita gente diz que ter misericórdia gera violência.
e é isso mesmo, moço, é justo,
é tudo muito justo,
qualquer coisa está bom, Deus lhe pague,
já dá para comer uma violenciazinha.
eu daqui de fora de sua vida e de seu carro
não sei saber de seus problemas,
da explosão de seu cartão de crédito,
das esquisitices de seus filhos,
dos arranca-rabos lá pro seu lado,
dos desquites, dos cânceres de sua família,
desculpe, peço-lhe mil desculpas.
é que há muita coisa entre nós:
esse vidro tenso, a película sombria,
a trama de sua roupa limpa,
de certa qualidade; depois seu corpo lavado
com sabonete líquido,
então sua benevolência de morto amador,
é frio aí dentro, moço? sei, o ar está gelando,
desculpe.
desculpe-me por pedir desculpa,
é que há muita coisa entre nós:
sei que o senhor é bem vivo - anos de estudo,
não é possível! -,
o senhor é bem vivo pra saber estar morto,
mortinho da Silva, assim como eu,
só que sem experiência.
que nessa área eu que sou doutor, moço,
não vem que não tem, me desculpe.
mas não se preocupe,
com o tempo o senhor também chega lÁ