GLAUCOMATOPÉIA [#38]
[1] Muito já se lamentou, em prosa e verso, o declínio da virilidade entre os mais velhos. Aproveitando o calo pisado, pisei também noutras vaidades perdidas, quando sonetei este aqui:
SONETO 599 BRONZEADO[2] A dura realidade, acentuada pelo contraste com as gabolices da juventude, foi bem retratada neste mote, glosado pelo paraibano José de Souza nestas rimas:Contrário da vaidade, não há nada
melhor que o natural. Cabelo cai.
Os dentes escurecem. Quem é pai
um dia vira avô, baixando a espada.Cerume se acumula. A amarelada
remela pende. O cravo não se extrai.
Da pele do nariz tanto óleo sai
que dá pra temperar uma salada.Meleca nas narinas se pendura.
Espinhas se apinhando vão nas costas.
Panelas enche a banha da cintura.As nádegas dariam tantas postas
que as índias cansariam da fritura,
deixando assar no sol, ao qual tu tostas.
POTÊNCIA DE VELHO ACABA[3] Descontado o estranho efeito do termo "tesão" no feminino, a glosa acima restringe-se ao plano sexual, mas minha versão teria que pegar a cegueira como principal fonte de frustração. Eis como resolvi a parada:
ONDE A DO MOÇO COMEÇA.Quando uma tesão desaba
Por problemas de idade,
Faltou a virilidade,
Potência de velho acaba.
Se ele a ninguém mais enraba
Já no moço ele tropeça,
Não adianta ter pressa
Se a tesão subiu pra língua;
A tesão do velho míngua
Onde a do moço começa.
Só mesmo o pajé, na taba,
Pode mais que um curumim!
Em termos de pingulim,
Potência de velho acaba!
Diferente, inda mais braba,
A zica do cego é peça
Pregada e, se ele tropeça,
A moçada ri na esquina!
Sua alegria termina
Onde a do moço começa! [8.71]