GLAUCOMATOPÉIA [#79]
O ROTO E O ESFARRAPADO
SONETO 663
O pênis preguiçoso e porco invade
a boca caprichosa dum viado,
e quanto mais estúpido e abusado
mais acha nesta a dócil humildade.
A língua estabelece intimidade
total com o prepúcio fimosado,
e até que o folgazão tenha gozado
a boca topa tudo que lhe agrade.
Depois do gozo, a boca cospe fora
a gosma que o sebento lhe esguichara.
Pergunta o pau: "Que nojo é esse, agora?"
A boca enjeita: "Fiz por pura tara,
mas quero algum asseio!" O pau se arvora:
"Mais sujo é quem chupou! Nem se compara!"
O soneto acima me veio quando, conversando com um amigo sobre incesto, contava-me ele o que um primo lhe confidenciara. O assunto surgiu naturalmente, já que nem eu nem Agenor temos reservas morais ou politicamente corretas. Agenor chega a ressalvar que entende toda a carga condenatória que pesa sobre o sexo incestuoso, mas acha que só no temor da gravidez residiria alguma justificativa para o tabu. Fora disso, nada obstaria, por exemplo, uma experiência entre irmãos homens, coisa que, segundo ele, é muito mais freqüente do que se supõe.
— Principalmente na adolescência, Glauco. Você mesmo não me mostrou outro dia uns livros americanos que colecionam casos de sexo bizarro?
Lembra daquele onde o mais novo é abusado pelo mais velho?
— Lembro, claro. Mas não custa reler pra refrescar.
Fomos até a estante e Agenor abriu um dos volumes das TRUE HOMOSEXUAL EXPERIENCES em que o editor da Gay Sunshine Press reúne os depoimentos que saíam no incorretíssimo fanzine STRAIGHT TO HELL de Boyd McDonald. O relato relido por Agenor era o dum leitor que testemunhava: "I've been sucking cock since I was a boy, when my older brother and I used to sleep together. I remember how funky his groin smelled and how big his dick seemed. It took some effort, but I was able to open my mouth wide enough to insert the smooth cut head of his prick and about 2" of his shaft. He never wasted any time with 'fag romancing' (as he called it); he just pulled me over to him in the middle of the night, pushed my head under the covers to his already hard cock and used my mouth as a receptacle for his somewhat sweet cum. Since I lived in fear of my big brother (he was the oldest in a family of 5 boys and 3 girls), he was pretty certain that I wouldn't squeal on him and his shocking activities. I really hated him, but he was usually in charge of baby-sitting me when our parents were out and he would regularly beat the shit out of me so I knew better than to say anything to our parents. He is now a big wheel in law enforcement in Northern Michigan. As time went on he used to order me to suck his balls (the hairs from those balls were forever getting caught in my teeth), lick around his smelly asshole and lick his dick like it was a big hot lollipop. He loved to straddle me while I was laying on my back, stick his prick in my mouth and then pull it out when he was ready to shoot so he could squirt his sticky cum all over my face. Then he told me to wipe it off my face with my hand and eat it. All this (and other refinements) went on EVERY SINGLE NIGHT for two years until we moved into a bigger house and I got my own bedroom. I locked my door. In two whole years of 'servicing' my brother, he never once touched me. [Editor's note: This sounds like an ideal relationship; please tell us more — what was said and done, especially the refinements. It's time we got some refinement in this magazine.]"
— Seu primo passou por isso?
— Passou, mas na situação inversa. Foi o mais novo que abusou dele.
— Ele tinha quantos anos?
— Quando a coisa começou, tinha dezessete. O irmão dele estava com catorze. Vou chamar o caçula de João e o do meio de José. Eles tinham um terceiro irmão, mas era bem mais velho, dum outro casamento da mãe, que era viúva do primeiro pai e separada do segundo. A família até que não era pobre, já que tanto a mãe quanto o primogênito trabalhavam. Mas o Zé e o Jô só estudavam, e no resto do tempo ficavam à toa. Na rua brincavam com turmas diferentes, cada uma na sua faixa etária. Já em casa brincavam a dois, ou antes, mais brigavam que brincavam. A maior implicância do Zé era com a teimosia do Jô em xeretar nas suas coisas. As gavetas não tinham chave, mas no guarda-roupa enorme cada um dos filhos usava uma porta, e a regra era que nenhum deles abrisse a porta do outro. Na porta do meio ninguém mexia porque era a do mano mais velho, mas as laterais eram sempre motivo de alguma rixa, o dono duma porta acusando o dono da outra porta quando qualquer coisa tava fora do lugar. Principalmente na gaveta dos gibis. Aqui começa a coisa. Sabendo que o Jô ia fuçar ali (mesmo correndo o risco de levar umas biabas), Zé deixou de propósito uma revistinha de sacanagem no meio das outras. Percebe a jogada, Glauco?
— Acho que sim. Ele procurava ao mesmo tempo um motivo pra brigar e pra puxar o assunto proibido. Mas com que intenção?
— Acontece que Zé costumava espionar as punhetas do Jô. A mãe dormia no outro quarto e o irmão mais velho voltava de madrugada, de maneira que, à noite, já de luz apagada, Zé fingia ter pegado no sono enquanto escutava os barulhinhos na cama do Jô: o moleque melava a cueca respirando esbaforido e cochichando frases tremidas tipo "Chupa aí, filha da puta! Engole essa porra!"... Claro que Zé já sentia algum tesão por marmanjos da sua idade, perto dos dezoito, mas não tinha coragem de dar bandeira numa periferia onde ser apontado como bicha significava quase um linchamento. De repente a sexualidade que transpirava do maninho virou uma tentação e uma obsessão pro Zé, mas ele sabia que o único jeito de chegar às vias de fato seria transformar uma das próximas brigas em pretexto pruma negociação direta. Não deu outra: Jô achou a revistinha, viu todas aquelas fotos de paus sendo chupados por putas, de tudo quanto é ângulo, e, quando Zé puxou briga, revidou a acusação com uma ameaça: "Mexi mesmo, e daí? Se encostar a mão em mim conto pra mãe que você guarda essas putarias! E tem mais: daqui pra frente cê não vai mais me dar porrada, não! Tá sacando?" Zé só esperava por isso pra se deixar dominar: "Tudo bem, vai ser como você quiser. Vamos combinar uma coisa: se isso fica só entre nós, topo até participar da sua punheta..." Jô duvidou e desafiou: "Ah, é? Só se for me chupando, que nem aquelas putas da revista!" Aí Zé entregou os pontos: "A gente pode experimentar. Não sei se vou conseguir, mas se der certo..." Quando Jô sacou que Zé não tava brincando, ficou louco pra trocar a mão pela boca do manão. Foi chupado naquela mesma noite, sem sair da cama, enquanto Zé se ajoelhava no chão e começava lambendo as bolas do moleque. No que a língua ia chegando à ponta do pequeno caralho, o cheiro de sebinho ficou mais forte e Zé teve nojo, mas o tesão era mais forte e ele continuou até sentir na língua a superfície lisinha da cabeça no meio da pele fedida que quase não dava pra arregaçar. Agüentou os pedacinhos de sebo derretendo na saliva, tragou a gosma que lhe foi esguichada no fundo do gogó, e acabou se convencendo de que sua tendência seria mesmo de se sujeitar ao ato da felação. Jô gozou sussurrando alguma coisa que Zé não entendeu, mas que já imaginava serem palavras de desforra. Nas sessões seguintes, tipo uma por semana, Jô continuou sem tomar a iniciativa, apenas se entregando ao trabalho bucal do irmão, mas numa noite não esperou que Zé atendesse ao seu chamado do costume ("Tá acordado? Então vem me chupar! Pode começar...") e passou a ditar regras: "Ainda não. Antes de pôr na boca cê vai só bolinando e esperando eu mandar. Primeiro pega na mão e vai segurando de leve. Isso. Agora escuta o que eu vou falar: vou querer todo dia, mas não só aqui na cama. Quero variar de posição, quero ficar em pé e ver você chupando no claro. Outra coisa: na hora que eu tô gozando cê tem que parar de passar a língua na ponta. Espera a porra sair toda, depois engole. Se passar a língua ali naquela horinha, a sensação atrapalha meu gozo..." A partir de então Zé percebeu que o maninho tomava conta da situação e que já se acomodava na posição de mando. Dali em diante seu regime ficou sendo o dum escravo sexual à disposição do moleque: a qualquer momento, desde que ninguém estivesse por perto, podia ser chamado a ficar de joelho em todo lugar da casa, a levar a rola do maninho na boca e a cumprir ordens cada vez mais descaradas, tipo apoiar a cabeça na beira da privada e deixar o mijo do Jô escorrer pela cara, lábios adentro, ou ficar firme enquanto Jô lhe segurava as orelhas pra bombar até a goela na maior empolgação, todo orgulhoso da sua juventude bem aproveitada. Nessas horas o pau do Zé também dava pulos dentro das calças, superando a consciência da vergonha e da raiva pela sensação irresistível do prazer de estar sendo usado. A mistura de vergonha e raiva era porque, entre uma sessão e outra, os dois continuavam se estranhando por quaisquer motivos, e desses atritos só sobrava mais disposição do Jô em "descontar" e do Zé em "pagar o pato" por estar, como ele mesmo reconhecia, "viciado em ser fodido na cara". Já pensou, Glauco?
— Porra, Agenor, só de imaginar já fico de pau duro! Vou ter de pensar nisso na próxima punheta...
— Então vai ter de pensar em mais uns detalhes. Uma vez o Jô resolveu brincar com os limites do nojo daquele mano feito de bobo. Terminou de cagar e nem limpou a bunda: chamou o Zé, que tava ocupado fazendo lição de casa, e mandou deitar no chão do banheiro, de cara pra cima. Zé sentiu o cheiro que vinha da privada e quis recusar, mas recebeu a ordem como uma bofetada: "Deita aí, tô mandando! Anda, deixa de frescura! Quero sua boca debaixo do meu cu! Vai me servir de papel higiênico! Não, não, nada de conversa! Vai lambermeu cu e é já!" Zé sentiu o sangue subir. Era hora de descer o braço naquele folgado e acabar duma vez com tanta falta de respeito. Mas fraquejou, foi tomado pelo delírio da obediência cega e pelo fascínio da molecagem descontrolada. Parou de retrucar e caiu de costas, deixando que Jô lhe montasse no rosto. O moleque até gritava "Iúpi!" quando sentiu a língua do mano entrando por onde a merda tinha acabado de sair, quase a mesma gostosura de se aliviar dum tolete bem molhadinho. O cu piscava de delícia. Resultou daí que Zé teve de descobrir como o masoquismo é praticamente inesgotável... Hoje ele nem tem cara e coragem pra se arriscar nesses excessos, mas ainda lembra da coisa com uma saudade que dá até inveja...
— Eu que o diga! Em matéria de inveja posso me gabar de ser imbatível. Mas preciso saber como terminou a coisa!
— Ah, nada de surpreendente: Jô começou a namorar, a sair com as menininhas mais fáceis... e foi se esquecendo de usar a boca do mano, que por sua vez também foi ficando à vontade pra procurar parceiros mais velhos e pra fazer coisas menos "brincalhonas"...
— Taí, Agenor: incrível como a juventude é descontraída e inconseqüente, né mesmo? Basta o cara "amadurecer" um pouco e já deixa de lado essas "loucuras de criança"... Mal sabem os moleques que essa é a maior oportunidade de realizar fantasias na vida da gente! Chances como essa quase nunca se repetem.
— A não ser na literatura, né, Glauco?
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