"NOZARTE EM BLOCOS", POR RICARDO ALFAYA

Ricardo Alfaya, Rio de Janeiro, 08.08.1953, formado em Direito e Jornalismo, é poeta, contista, cronista, articulista, ensaísta e editor do
Nozarte Informativo Impresso e Eletrônico. Blogue: http://nozarte.blig.ig.com.br

Coluna de 21/11
(próxima coluna: 21/12)


BLOCOS SEIS, UM LANCE INESQUECÍVEL

1) Um dos mais tradicionais alternativos impressos dos anos 90 foi o tablóide “Blocos, jornal cultural”, editado por Urhacy Faustino e Leila Míccolis, no Rio de Janeiro. Em circulação desde o início da década, vinha impregnado do espírito de intercâmbio que animava a Mail Art (Arte Postal). O periódico se fazia, em sintonia com a Blocos, Editora. Portanto, ambos se acham na origem do portal Blocos Online.

2) Conheci a publicação a partir do sexto número, de junho/julho de 1992, que me foi generosamente remetido por Joaquim Branco, poeta e crítico literário de Cataguases-MG. Trata-se de edição que ocupa lugar estratégico na história do periódico porque a matéria de capa comemorava “Um Ano de 15 Meses”, da existência do jornal.

3) O editorial fazia referência à capa especial, na qual se reproduziam as dos cinco números anteriores. Diziam os editores: “(...) nossos maravilhosos ilustradores de capas –entre eles Jorge Domingos e Marta Zampiere, e os amigos de Blocos, divulgados neste número ao lado de suas poesias. Nesta retrospectiva emotiva, também afloram os escritores publicados pela nossa editora (que já conta com seis livros editados, sendo duas antologias), e os assinantes, que desde o número 1 investiram às cegas no jornal. Ficamos contentes por hoje saldar nosso compromisso –moral e material- com vocês. Nossa publicação já ultrapassou fronteiras: na presente edição, incluímos um poeta africano (Carlos António Bengui), um argentino radicado na França (Emeterio Cerro), além de três brasileiros que estão em Lima, Canadá e Estados Unidos (Márcio Catunda, Corinne Marian e Teresinka Pereira), divulgando cultura brasileira. Nosso carinho especial a Zanoto, a Nejar, nossos colunistas fixos, aos colaboradores de todo o país, responsáveis por nos manter bem informados, e a Valentina Ljubtschenko, da Edicom, pelo apoio constante. Mas não só a estes, a todos, os nossos agradecimentos, pelos 15 meses em que nos foi dado conhecer toda sorte... de experiências.” [ênfase dos editores]

4) Outro aspecto que me chamaria muito a atenção é que o jornal explorava poeticamente a sonoridade e polissemia do título, trazendo dois quadrados, no alto da página. Um se achava à esquerda e outro à direita. No canto esquerdo, a logomarca da publicação, na qual os dois “os” da palavra “Blocos” se transformavam num par de óculos. À direita, um outro quadrado, de tamanho equivalente, assumia a forma da face de um dado, expondo em pontos o número da edição.

5) O contato com a publicação mudaria minha trajetória. Motivado pela presença de inúmeros endereços de poetas e pelo incentivo de Joaquim para que escrevesse aos editores, escolho um grupo de nomes a quem remeto cartas. Seguem, acompanhadas de exemplar de “Através da Vidraça”, poesia, meu livro de estréia de 10 anos atrás (1982), do qual dispunha ainda de vários volumes, pois fizera uma edição demasiadamente robusta para um poeta estreante. Para Leila e Urhacy também enviaria o livro, acompanhado de mensagem. Um trecho apareceria na edição seguinte, o número sete, de agosto/setembro de 1992. A parte transcrita dizia:

6) “Fiquei impressionado com a quantidade/qualidade de assuntos, em tão poucas páginas. É um jornal inteligente, muito bem estruturado, um objeto-poema, onde o título remete à própria concretização da forma. Um jornal feito de blocos, como os famosos “dados” de Mallarmé, sempre muito oportunamente evocados em suas capas. Incrível como uma idéia, sem dúvida genial, como “um lance de dados” pode atravessar o tempo e se desdobrar na mente de tantas outras pessoas criativas que a reaproveitam, reciclam, reelaboram. A mágica da poesia. Fantásticos blocos” (Ricardo Alfaya). Na página quatro, reproduzia-se a primeira versão do poema visual “Dissidente”, de minha autoria com Amelinda Alves. Quanto à observação sobre a quantidade de páginas, vale lembrar que, em geral, o tablóide possuía oito. Porém, sobretudo depois do número 23, algumas edições vieram com 12.

7) Até hoje me encanta verificar resultado tão criativo derivado da transformação em exercício poético da conhecida expressão jornalística “blocos de notícias”. Basta pensar um pouco, para que surjam diversas associações. Por exemplo, com 12 páginas de um jornal tablóide se pode improvisar um cubo de papel. E um dado nada mais é do que um cubo pontilhado a partir de uma seqüência matematicamente determinada. Por outro lado, um jornal é feito de dados (no sentido de elementos, informações), enfim...

8) O episódio renderia ainda matéria de nossa autoria que sairia um ano depois, já no número 13, de agosto/setembro de 1993. Trata-se da redação do ensaio-poético “Dados Soltos num Jogo de Dardos”, ilustrado por um poema visual, assinado por mim e por Amelinda Alves, em homenagem a Stéphane Mallarmé. Ensaio, inclusive, que pode ser apreciado neste portal, no seguinte endereço: http://www.blocosonline.com.br/literatura/prosa/artigos/art034.htm

9) Minha coleção do jornal Blocos vai do sexto ao 30° número, exemplar datado de ago / set / outubro de 1996, uma vez que com o tempo a publicação deixou de ser bimestral, tornando-se trimestral. Mais adiante, em nova modificação, passa ao formato revista. Desta última fase tenho apenas o número 32, revista de julho de 1999. Blocos há muito já se achava na Internet, que viria a constituir-se na opção principal da Editora, pelas evidentes vantagens na relação custo / benefício em favor do meio eletrônico.

10) Seja como for, a importância do jornal Blocos para a difusão de minha obra naquele período foi fundamental. Acredito que para muitos outros escritores também. Aliás, importante material se acha registrado naqueles números. Sem dúvida, ainda extrairemos dali “Muita Poesia Brasileira” e excelentes momentos literários para o enriquecimento desta coluna. Acompanhem.

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