Coluna de 21/4
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NOZARTE DEZ ANOS: DEZ TOQUES EM DESTAQUE
1. Em abril de 1995 fazíamos correr pela primeira vez um número de Nozarte. Dirigido então a 150 especialíssimos leitores, objetivava atender a um desejo que se tornava cada vez mais forte: ter nossa própria publicação impressa, a exemplo de muitos "zineiros" e editores de periódicos alternativos. Começamos de maneira simples, um cabeçalho sintético; logo depois, um editorial de 25 linhas. Em seguida, informações diversas em tópicos curtos estendiam-se ao longo de cinco páginas A-4. Tudo feito e impresso em computador, com a utilização do programa Word. Dez anos depois, chega, neste mês de aniversário, à volumosa edição de número 14, disponível em Nozarte Cultural Blogue (http://nozarte.blig.ig.com.br).
2. Com tanta matéria divulgada, difícil destacar "dez toques", tarefa que nos propusemos, mais para atender a um irresistível impulso poético. Porém, há fatos e tópicos relativos a Nozarte que nos marcaram para sempre, que nos vêm à lembrança toda vez que focalizamos mentalmente determinada edição. Por exemplo, a descontração evidente com que fizemos o Nozarte dois. Fechávamos o editorial: "Por enquanto, caminhamos mais ao sabor do vento, mais para o blue/jazz do que para a música orquestrada. Enquanto escrevo este texto, não sei ainda que canções irei executar. Tenho apenas o fio melódico a direcionar-me, a famosa 'linha editorial'; aqui, talvez, uma antilinha editorial, será? Vamos ver, comecemos a executar a nossa arte". E daí fomos realmente improvisando textos, emendando com poemas remetidos, tudo ao sabor do acaso.
3. Bem mais denso e organizado seria o número três, de junho de 1995, com 11 páginas. Recebe diagramação bem mais arrojada, que permite a inserção de poemas de diversos autores, pois o fizemos no programa Adobe Page Maker, um editor de textos muito melhor para se trabalhar do que o Word. Marca também a estréia da poesia visual na publicação, exposta na página de encerramento "Mail Ambiente". Avelino de Araújo, Geraldo Magela, Ricardo Alfaya e Amelinda Alves, Hugo Pontes, Lapi, Joaquim Branco e Paulo Bruscky inauguram o espaço.
4. O número quatro, de fevereiro de 1996, traz significativa modificação. Pela primeira vez surge a logomarca que, daí para diante, acompanharia toda edição de Nozarte: um círculo com o nome do informativo e dos editores. No centro, duas nozes juntas. A logomarca deriva de um carimbo que fizéramos para a divulgação de nossa poesia visual. Permaneceria inalterada até o número 12, de junho de 2004, quando introduzimos algumas modificações, mas sem prejuízo da idéia original.
5. A edição mais insólita de todas foi a de número seis, de março de 1997. Na ocasião, achava-se em andamento o processo que culminaria na doação da riquíssima Vale do Rio Doce para empresas estrangeiras. Talvez o mais notável e inacreditável feito do governo Fernando Henrique Cardoso. Sabíamos que, naquelas circunstâncias, era impossível deter o terrível acontecimento. Porém, consideramos que era nosso dever tentar alguma coisa, se pudéssemos. Na época, a Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil enviou-nos sua revista "Ação", n. 97, na qual se propunha um abaixo-assinado com o qual se tentaria impedir na Justiça que o país viesse a perder a Vale daquela maneira absurda. Assim, o Nozarte seis foi, na verdade, um número especial, cujo principal objetivo consistiu em repassar o documento divulgado pela ANABB. Constituiu-se de um editorial deveras crítico ao governo FHC, que alguns periódicos republicaram na forma de artigo. A ele se somavam apenas mais uma página, com dois poemas visuais, ambos tendo como tema o repúdio à doação da Vale. Um feito por mim; o outro, por Joaquim Branco. Curiosamente, ambos os visuais foram igualmente republicados por outros periódicos.
6. Em novembro de 1997, expedimos uma edição muito bonita, com 12 páginas, a de número sete. Foi das mais difíceis de realizar, pois além de estarmos recentemente morando no Méier e em processo de mudança de residência, meus pais haviam falecido naquele ano. Respectivamente, em 03 de setembro (minha mãe) e em 03 de outubro (meu pai). Não quis mencionar o fato na publicação, mas uma nota discreta, dedicando o número à memória de ambos, marcaria o acontecimento. Situa-se no rodapé da primeira página, logo abaixo do editorial.
7. Passamos 1998 sem qualquer edição. Além do estado de ânimo um tanto em declínio por causa dos acontecimentos de 1997, enfrentávamos mais um período de mudança de residência. Foram várias nesses 10 anos, em que ficamos um tanto "pingue-pongueando" da Zona Sul para o Méier, do Méier para a Zona Sul, estando agora novamente no Méier. Todavia, em novembro de 1999, às vésperas da entrada do ano 2000, residindo no Flamengo, conseguimos produzir a que mais nos satisfez como editores. Com 20 páginas e o poema visual "O Mundo Passará / The World Will Pass – Poesia 2000", de Ricardo Alfaya e Amelinda Alves, a publicação ganha aspecto semelhante ao de uma revista. Assume postura otimista em relação ao cenário internacional (ainda não havia torres desabando, nem George Bush). Entre outros assuntos: artigo sobre a poesia de Almandrade; delicada crônica natalina de Ruymar Branco Ribeiro, cronista de Cataguases. Falamos de João Cabral de Melo Neto e de Samaral. Há inúmeros poemas divulgados entre molduras, muitos deles com ilustrações. A seção de "Livros Recebidos" vem recheada e ilustrada com humor. Na página 15, uso pela primeira vez o pseudônimo Alfayeus, numa paródia em que homenageio Zanoto, também colunista de Blocos e de Diversos Caminhos, no Correio do Sul de Minas. Digo então: "O que é Belo e Bom é duas vezes Belo. (Alfayeus, corifeu grego, em epístola a Zanoto de Eléia, enquanto caminhava por diversos caminhos de Atenas, por volta do sec. V a. C.)". Por último, a página "Mail Ambiente", a mais repleta de poemas visuais que pude fazer.
8. Vindo logo em seguida ao robusto número oito, o número nove, de janeiro de 2000, não teve muito material, sendo uma edição discreta. Destaque apenas para a página "Mail Ambiente", uma das mais bonitas que produzimos, com trabalhos de Clemente Padín (Uruguai); Sérgio Monteiro de Almeida, Ricardo Alfaya, Aquiles Branco, Moacy Cirne e Márcio Almeida.
9. O número 10 demoraria a sair. Somente iria ao ar em dezembro de 2001. A expressão aqui é bem adequada. Contando com a colaboração de Andrea Augusto (Angel Blue) é a primeira edição distribuída na Internet, com tiragem de 400 exemplares. Tanto o número 10 quanto o número 11, este de dezembro de 2002, recebem diagramação simplificada, para que ficassem mais leves e pudessem ser distribuídos na Rede. Assim, eliminam-se componentes visuais, à exceção da logomarca e de pequenas vinhetas. Depois da viagem, pousavam num site especialmente criado para acolher a publicação. Seu endereço era no Intermega, da Globo, de hospedagem gratuita. Parecia que tudo estava muito bem, quando simplesmente o Intermega retirou-se do ar, derrubando todos os sites que lhe estavam vinculados. Decepção muito grande para muita gente. Sem dúvida, foi em grande parte por isso e por andarmos novamente às voltas com mudança de residência que não tivemos Nozarte no ano de 2003.
10. Em junho de 2004, retornamos, com o número 12. Insatisfeitos com o sistema de distribuição e armazenamento da Rede, optamos por uma publicação mais próxima de suas origens, com tiragem de 220 exemplares impressos, para distribuição pelo correio. Porém, no decorrer do processo nos animamos a tentar outro modo: a conversão do documento para o formato PDF, legível pelo excelente Adobe Acrobat Reader. Assim, fizemos as edições de números 12 e 13, sendo que na 13, pela primeira vez, os comentários sobre livros e revistas são ilustrados pelas capas. Com 500 exemplares distribuídos, teve expressiva receptividade. Por fim, chegamos ao número 14, concretizado este mês, por novo método: para a parte impressa, um resumo simples, de cinco páginas, em formato PDF. Já a virtual foi inteiramente produzida no Nozarte Cultural Blogue, num total de 60 postagens, a maioria ilustrada, com ampla divulgação de livros, poesia escrita, poesia visual e as mais diversas notícias. Daqui para a frente, deverá ser esse o meio adotado. Isso se nenhuma nova idéia nos ocorrer, pois nesses 10 anos a palavra "mudança" é a que melhor sintetiza a publicação e a nossa vida.
Rio de Janeiro, 19 de abril de 2005.