Coluna de 9/5/2013
(próxima coluna: 26/5/2013)
O teatro simbolista
O Simbolismo foi uma das atitudes artísticas mais ousadas de todos os tempos, sobretudo no teatro. Trata-se de um teatro que tem na palavra poética a grande protagonista, além de uma busca pelo valor mítico da poesia. Trata-se de um teatro que é uma das bases das experiências de vanguarda do século XX. Alguns estudiosos pensam que essa eleição que os simbolistas fizeram, da palavra poética como valor supremo, coloca o teatro simbolista num “grilhão inescapável”, pois para esse tipo de teatro a realidade é apenas a aparente alusão a uma realidade espiritual superior. A partir disso, o esforço empenhado pela arte teatral para reproduzir de maneira meticulosa, naturalista a realidade perdia qualquer espécie de significação. Ao criador caberia decifrar os sinais, as correspondências com as quais o mundo reflete um “para-além”. Para que esse contato acontecesse bastaria um espaço nu e uma voz que transmitisse a palavra do autor para o espectador. Qualquer outro elemento viria a embaralhar, atrapalhar essa comunicação.
Para os simbolistas mais radicais, a encarnação da palavra no palco é algo que degrada a poesia: o texto, que deveria ser lido e sonhado pelo leitor, seria incomparavelmente mais belo, mais intenso que sua representação. Um dos principais nomes do teatro simbolista, Pierre Quillard, dizia que “a palavra cria o cenário, assim como todo o resto”, já outro expoente do teatro simbolista, Maurice Maeterlink dizia que “não é nos actos, mas nas palavras, que se encontra a beleza e a grandiosidade das belas e grandes tragédias”. É preciso lembrar que esse que essa é uma perspectiva é de natureza extra-literária, ou pré-literária. Os simbolistas eram antipositivistas, tinham uma motivação ideológica bem definida: eles recusavam a explicação científica do mundo. Havia uma tentativa de entender o mundo por um viés mais metafísico, transcendental. Assim, o catolicismo extremo de um Paul Claudel, as visões místicas de Edouard Schuré, o esoterismo cabalístico, ou mesmo a ruptura com a História, a fuga do espaço teatral e do tempo, que levaria os dramaturgos simbolistas a situarem suas peças em tempos lendários, míticos, em que o sonho pudesse florescer de maneira livre são os exemplos mais claros dessa atitude idealista.
Alguns simbolistas preconizavam um teatro da mente, completamente eterizado, jamais contaminado pela presença física de um corpo, este seria o único teatro digno do nome da arte. Um dos grandes autores simbolistas, Mallarmé, apesar de, por certo tempo, ficar tentado a essa radicalização, manteve-se mais próximo a uma forma equilibrada de teatro, ou seja, uma arte que não prescindo de representação, até por que ele via que o drama poderia ser uma arte destinada a um público em geral e a um leitor solitário, além disso havia os sons, as cores, os odores, presentes no teatro, e desde que subordinados à poesia, poderiam enriquecer o efeito poético.
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