Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 173 - 2ª quinzena de março de 2010
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Próxima: 10/4/2010

A missa

É por isso que sou favorável aos aniversários. Com alegria, festa. Quando não há, às vezes somos levados ao enterro, no cemitério, ou à missa de sétimo, trigésimo dia.

Fui à missa do Adailton, do poeta Adailton Medeiros. Nunca esperei, nunca pensei que eu teria esse dissabor. Não pela missa, belíssima, no Mosteiro de São Bento, em cuja nave as cinzas do Adailton estão guardadas, junto com as figuras mais importantes da história daquela instituição. Não. A missa foi rezada pelo Abade. Todos os monges vieram antes, rezar. Foi muito bom. Adailton foi monge durante 4 anos.

Mas faltava o Amigo!

No poema “Os resultados”, ele disse que fracassou como jornalista, professor, político, escritor, religioso e amante.

Jornalista eu o fui, no início de minha vida, e sei como era bom naquele tempo da boa imprensa.

Que engano, amigo Adailton! Jornalista, professor e político eu não sei, ele não quis. Ele era muito tímido, muito introvertido, não daria certo nessas profissões onde há competição sangrenta.

Como escritor foi um sucesso de crítica.

Segundo seu crítico Cunha e Silva Filho, escreveram sobre ele Fausto Cunha, Assis Brasil, Foed Castro Chamma, Antônio Olinto, Telênia Hill, Nelly Novaes Coelho, Nauro Machado, Leodegário Amarante de Azevedo Filho, Mário Chamie, Affonso Romano de Sant'Anna, Carlos Drummond de Andrade, Cassiano Ricardo, Laís Côrrea de Araújo, Afrânio Coutinho, Luciana Stegano Picchio e Sílvio Castro!

Um sucesso.

Segundo Cunha e Silva Filho, Adailton Medeiros escreveu uma novela “Revoltoso Ribamar Palmeira” (Rio de Janeiro: Matavalos, 1978); “Braçadas de palmas” (discurso), Rio de Janeiro: ACLERJ, 1981); “Floração de Minas” (discurso), Rio de Janeiro: AbdL, 1982); Quatro ensaios In: Samuel, Rogel.(org.). Literatura básica. Petrópolis: Vozes, 1985, v. 1.

E livros de poesia: “O sol fala aos sete reis das leis das aves”. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972; “Cristó'vão'Cristo: Imitações”. São Luís/Rio de Janeiro: Coleção Azulejo, 1976; “Poema Ser Poética”, texteoria. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982; “Lição do mundo”. Rio de Janeiro, Edição. Sete, 1992; e “Bandeira vermelha”. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2001.

Quando organizamos o nosso “Literatura básica”, para a Vozes, em 3 volumes, convidamos Adailton para colaborar. Ele escreveu 4 ensaios magníficos, sobre o teatro, lírica medieval, Renascimento e Claudio Manuel da Costa.

Infelizmente o livro está esgotado.

A vida tem dessas coisas. “Deus é o Silêncio-Total / indizível impensável Antiguíssimo / tocando o Vazio-do-Nada”.

Mas uma das maiores glórias de Adailton Medeiros é estar na famosíssima Antologia de Manuel Bandeira e Walmir Ayala.

Suprema glória, amigo.

Amigo verdadeiro.

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