Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 249 - 1ª quinzena de novembro de 2013
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

A SAGA DOS CANDELABROS

A semana foi dominada pelo filme de Steven Soderberg, o premiado diretor de “Behind the Candelabra”, sobre o famoso pianista Liberace, sucesso absoluto de seu tempo.

Passou no HBO.

Filme é biográfico e foi inspirado no livro “Behind the Candelabra: My Life With Liberace”, escrito por Scott Thorson, um jovem amante de Liberace (Michael Douglas), que morou com ele durante alguns anos representado por Matt Damon.

Em 1982, Thorson processou Liberace revelando o relacionamento secreto que mantiveram durante anos e que começou quando ele tinha apenas 22 anos.

A relação acabou devido às drogas.

Liberace, na época, uma unanimidade.

Meu pai tinha discos de Liberace em nossa casa.

Liberace ganhava milhões de dólares por ano em apresentações, discos, programa de televisão e até venda de livros.

Ele tinha um completo domínio do público e foi o primeiro astro a se apresentar com roupas extravagantes, coloridas, luminosas, o chamado estilo flamboyant, inventado por ele e seguido por Elvis, Michael Jackson, Madonna, Elton, Lady Gaga, etc.

“Behind the Candelabra”, por abordar um tema gay, não teve nenhum sucesso no nosso Brasil machista.

Mas mereceu uma primeira página no “Clarin”, na vizinha Argentina.

O filme foi exibido pela primeira vez em 26 de maio de 2013 e foi visto por cerca de 3,5 milhões de pessoas e ganhou 11 prêmios.

O inimaginável Liberace era poeta e autor de livros de culinária. Seu público era constituído por senhoras americanas e ele cozinhava muito bem.

Ele era um astro, e bom pianista.

Sua vida se confunde com aqueles pianos espelhados, sobre os quais pousavam candelabros.

Mas sua morte foi sintomática: ele quis esconder que tinha AIDS, preservar sua imagem, e foi anunciado que morrera de problemas de saúde.

Porém um juiz interrompeu seu sepultamento e exigiu uma autópsia e uma desmoralização pública.

Na época a AIDS era um tabu.

Seu corpo foi trazido do cemitério através do deserto seguido por um helicóptero da polícia para impedir que fosse extraviado.

Queriam desmoralizá-lo.

A sua privacidade tantos anos preservada foi violada.

Anos depois, o Museu Liberace fechou as portas.

Por onde andarão os pianos?

Onde os candelabros e anéis?

A tudo a morte dá um fim.

A morte tudo apaga.

Liberace gravou cerca de 70 discos.

Vendeu milhões de cópias.

Seu nome se esconde agora atrás dos candelabros acesos.

Dia virá dos candelabros apagados.

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