Coluna de Rogel Samuel
Rogel Samuel é Doutor em
Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista,
cronista, webjornalista.
Site pessoal:
http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/
Nº 250 - 1ª quinzena de dezembro de 2013
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Parabéns ao colunista pela 250ª coluna
Veio o verão
Para todos, como sempre, veio o verão, com suas lanternas, com suas lentes, com suas suavidades.
Veio e talvez fique.
Volto a pousar os olhos sobre as árvores de cristal, a ouvir os tropéis de cavalos negros, as flores da madrugada.
O calor do verão levanta os deuses adormecidos, que passeiam pelos bosques com suas longas caudas de orla do mar e seus penachos de pavão.
Fulge o sol, como um rei que renasceu com pompa a glória de seus estampidos.
As plumas das nuvens estão mais brancas e lívidas, os sonhos estão mais leves e nítidos, as fantasias bem mais bem bordadas.
Enfim, depois de longa espera, vejo o verão vir entre as cortinas de janelas.
Podemos pois passar em sua (dele) imaginação reunida.
Podemos pousar nossas asas molhadas no azul infinito dos seus espelhos.
Podemos.
O verão vulto verde voltou.
Viva o verão.
Por isso canto o poema de Jorge de Lima.
É um soneto de Jorge de Lima que sempre canto, que sempre danço, que me não cansa lembrar e que assim inventa (de Orfeu):
“Qualquer que seja a chuva desses campos
devemos esperar pelos estios;
e ao chegar os serões e os fiéis enganos
amar os sonhos que restarem frios.
Porém se não surgir o que sonhamos
e os ninhos imortais forem vazios,
há de haver pelo menos por ali
os pássaros que nós idealizamos.
Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.
E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas”.
Está em Jorge de Lima, Invenção de Orfeu - Canto I – XXVI
Porque sobreveio o verão e tudo está nas flores, nas cores, nos humores desse poema.
Pois se tudo estiver bem, e está agora, os tempos bem melhores podem advir.
“Qualquer que seja a chuva desses campos / devemos esperar pelos estios”.
A chuva cai com mansuetude imaginária.
E quando a chuva chegar, devemos contentar-nos com os sonhos.
Os versos não dizem isso, estão sendo pessimistas, esperam os brilhos futuros.
Pensam em conseguir o amor sonhado, que é imortal e sempre dura.
“Porém se não surgir o que sonhamos
e os ninhos imortais forem vazios,
há de haver pelo menos por ali
os pássaros que nós idealizamos”.
Para que a realidade?
Podemos recriá-la.
Para que a infelicidades?
Pomos de ouro nos bosques.
“Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.
“E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas”.
Porque veio o verão, com seu café saudável.
Seu aroma de Brasil.
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