Coluna de Rogel Samuel
Rogel Samuel é Doutor em
Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista,
cronista, webjornalista.
Blog pessoal:
http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/
Nº 263 - 1ª quinzena de setembro de 2014
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
A PANTERA
6.
Acrescentar eu devo que prosseguindo mudos naquela direção o dia inteiro do pico ainda estávamos distante ao anoitecer; e não mais senti a presença negra da pantera nos perseguindo, quando os olhos ao céu dirigindo vemos clarões brilhar como relâmpagos mudos e lumes dois ou três que a terra estremeciam e aí vejo que de Jara os olhos se assustaram, e ligeira logo se fez. E assim deparamos com uma pequena planície onde havia montículos de terra que pensei serem túmulos rasos. Mas “não”, disse-me Jara (pois se fossem os animais já teriam descobertos), e encontro sacolas de dinheiro e mochilas com armas e vestimentas, sapatos e botas e comida tudo envolvido em plásticos. Eu me aproprio das utilidades, visto-me de casaco e botas, encho um pequeno saco de maços de dinheiro, armas e um cantil. Ao que um terrível urro nós ouvimos da pantera que chegava que toquei nas armas ao que Jara me conteve, e já ela vestida de soldado e armada de faca e de fuzil me parecia protegida. E depois de revistar todos os montes e de umas mochilas que nos apropriamos, assim Jara partiu e eu a segui somente ao primeiros passos logo sentimos o peso da carga recebida, e sendo assim Jara e eu entramos na floresta que rara se fazia, e caminhamos por alguns dias subindo a encosta da montanha lentamente e passando ao mais alto, mas Jara revelava que aqueles sítios todos antes conhecera.
Do medo a cor que o gesto me alterara ao ver que aparecia, na ponta da planície, marchando célere em nossa direção, aquela pantera mas Jara, como escutando, espreita e me diz: ”quer ela nos atalhar e nos levar nesta direção” que aponta naquela direção antiga e de subida, – “é mister vencer nesta porfia”, – e da pantera a marcha acelerada nos adiantou e de lá saímos, buscando o alto da montanha, que é raro o parecer, e um ensejo de nos fazer guiar pelo caminho que entre abismos nos comunica. Ali, porém, já fui que a inimiga pantera constrangia-nos a fazer essa jornada. Que pensei, e pensando disse para Jara, que agora poderíamos fazer, para das sombras nos tirar dos seus precitos, com as armas de que agora dispúnhamos poderíamos a fera abater a tiros: “Esta é a pior solução” - dizendo ela, voltou-se para mim – e usando uma expressão nova: “esforça-te, querido, eu também sei o caminho que da grande batalha vai nos afastar” – “este paul que a fera cheira é o circundo da guerra e o tormento que de entrar já não podemos sem ira” – e não me lembro o que mais disse o pensamento e o olhar pondo no cimo chamejante que os olhos me prendia, vi que estava atenta, pois de lá longe o aspecto de horripilante explosões sucessivas que o chão estremecia, que com as unhas a pantera a terra arranhava e com suas patas o solo rebatia e com tal brado que à guerreira me acerquei de pavor cheio. Ela volta a face de fúlgida luz o rosto farto conserva a calma a encarar-me, transformando-se numa sorte de deusa e as mãos juntando às minhas mãos e os olhos no fundo dos meus olhos a amparar-me dessa arte, e logo um tufão distante fremiu impetuoso que de ardores explosivos se cercando, sem pausa fere a terra, que se abria como em leques de sonoridades entre nuvens de pó alevantando e após o mundo se cobriu de um estranho silêncio, mudo e quieto, mundo derradeiro e deserto que vem da insânia rara.
Clique aqui para ler a continuação
________
Arquivo de crônicas anteriores:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48 , 49, 50, 50ext, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74 , 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114 , 115 , 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134 , 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144 , 145, 146, 147, 148, 149, 150 , 151, 152 , 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162 , 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 223, 224, 225, 226, 227, , 229, 230, 231, 232, 233, 234, 235, 236, 237, 238, 239, 240, 241, 242, 243, 244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257, 258, 259, 260, 261, 262
Conheça o "NOVO MANUAL DE TEORIA LITERÁRIA" (6ª ed., Editora Vozes) e "O AMANTE DAS AMAZONAS", 2ª EDIÇÃO, EDITORA ITATIAIA: este romance, baseado em fatos reais, históricos, conta a saga do ciclo da borracha, do apogeu e decadência do vasto império amazônico na maior floresta do mundo. Cerca de cem volumes da época foram lidos e mais de dez anos de trabalho necessários para escrever esta obra. CLIQUE AQUI PARA LER ONDE VOCÊ PODE ENCONTRAR O ROMANCE DE ROGEL SAMUEL.