Coluna de Rogel Samuel
Rogel Samuel é Doutor em
Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista,
cronista, webjornalista.
Blog pessoal:
http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/
Nº 265 - 1ª quinzena de outubro de 2014
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
A PANTERA
7.
À medida que avançávamos então pelo caminho sem nos falar, formos encontrando sepulcros desiguais e incertos, restos dos exércitos destruídos, esqueletos podres, cadáveres em tanques de excrementos, mas de modo mais agro o solo todo coberto de pisadas e rastros, e tampas e terríveis que uns eram túmulos outros eram muros e trincheiras, - o forte cheiro da morte inda ali restava.
E entra a guerreira por vereda estreita, entre o muro e os martírios vai seguindo e eu após ela, pois a seus passos os meus passos se continuam, passando entre as sepulturas descobertas, os corpos estragados, comidos de bichos, os corpos em decomposição, a vida se acabando.
Mas ouço novamente aquele som, de súbito saído do horizonte, seguido a um clarão que tanto me horroriza, que à Jara me abracei, apavorado, tremido. E na sombra eu tinha já fitado o vulto da pantera perto de uma tumba aberta. A guerra crua faz na gente o espanto e com ansiosos olhos olhei os lados, a ver se algum guerreiro sobrara ainda vivo para nos atacar. Súbito ergueu-se um pássaro em gritaria, quando da pantera se viu ameaçado.
Eu começava a lembrar alguma coisa do que fui, do que fiz, pois não sem motivo estava eu por ali, pois daquela guerra não estava de juízo certo.
E então, se bem percebo, ao fundo vejo um precipício. Mil jazem por aqui, pensei, e as almas mortas nesses ares esvoaçam, os corpos desciam o vale horrendo que odientos vapores exalavam.
Foi quando fomos atacados por uma tribo desconhecida, com muitas flechas e gritos lancinantes, que mais tinham o intento de nos afastar que de matar, pois nós não víamos ninguém no dentro da floresta.
Mas eu comecei a disparar os tiros e os gritos silenciaram e as flechas acabaram.
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