Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Blog pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 290 - 1ª quinzena de dezembro de 2015
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)

A PANTERA

32.

Um mês depois recebi a mensagem de que Jara estava escondida em Manaus e que tinha algo para mim. Mas eu não podia atendê-la, não podia expor-me. Nem tinha sua habilidade de ficar invisível entre as gentes.

Jara me fez saber que resgatou dinheiro do que estava escondido no centro da floresta. Fiz chegar a ela a notícia de que eu não podia ir, e que ela tinha de desaparecer de Manaus.

Ela disse que sim, e membros de nossa organização conseguiram enviar-me dólares, numa operação complicada através do banco de Madame Adele.

Eu continuava como aluno a dar aula na Escola. Era fácil desenhar para modelo magra e esguia, difícil era o que eu fazia para matronas, senhoras de meia idade ou mesmo idosas, gordas e baixas. Nisso eu era o mestre.

Jara compreendeu o risco que corria.

– Se te pegam vão torturar-te até a morte para saber onde os outros estão, disse-lhe eu.

Ela entendeu.

Ela desapareceu sem deixar rastro. Não se despediu, nem revelou seu paradeiro.

 

Meses depois, passei minhas férias na Austrália, para onde fui a fim de receber um ensinamento de meu Guru. Fiquei ali quase dois meses.

Quando voltei – movido por um desejo louco de superar-me, e para ver até onde ia a capacidade de Madame Adele de gastar – fiz o trabalho mais luxuoso até então.

Era um belo vestido negro com bordados discretos de fios de ouro em forma de secretos pavões. Havia centenas de pequenas pedras preciosas espalhadas, esmeraldas, rubis e diamantes. A fazenda exclusiva para a roupa, e escolhida por mim, era negra cor de petróleo. Tinha vários tons de negro. Simples, mas perfeito. Sua beleza residia na simplicidade, mas era uma joia.

Havia numa capa estilizada que cobria o rosto e o corpo, com pequenos pavões bordados um a um. Cristais, esmeraldas e diamantes.

Aquilo custou uma fortuna. Projetei sapatos muito leves e confortáveis feitos pelo melhor sapateiro de Paris, com a mesma fazenda.

Tudo deslumbrante, que alcançou grande sucesso na foto publicada em uma revista de moda sem o meu nome (“O costureiro não foi revelado”, dizia). Madame Adele saía de seu Rolls-Royce na foto.

Era algo milionário, caríssimo, eu me excedi.

No fim, esperava que ela me despedisse quando lhe apresentei a conta, mas em vez disso ela me chamou e me pediu exclusividade com uma proposta milionária de pagar-me mensalmente através de seu próprio banco.

Aceitei e fiz a exigência de ter a nacionalidade do seu país.

Ela aceitou.

Eu lhe disse:

– Primeiro tenho que falar com o pessoal da Maison.

– Não, senhor, disse-me ela. Isso faço eu.

Acrescentei:

– Nada posso fazer sem aquelas costureiras, bordadeiras etc. Elas são as minhas mãos preciosas.

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