Grãos de areia
Há amores que são
como rochas: firmes, resistentes, brilhantes durante as maiores tempestades,
reluzentes aos raios de sol; se a água bate, eles ficam cada vez
mais limpos; são firmes, fincados em solo árido; por vezes
até um musgo, uma planta, às vezes uma flor nasce. Destes,
nos orgulhamos e nos lembraremos sempre.
Há amores que são
como areia: escorregam das mãos, brilham somente em dias de sol
a pino, nada cresce ou nasce de suas entranhas; ficam nas formas onde os
colocamos e, se o invólucro se parte, eles se derramam ao chão;
se a água lhes bate, perdem o brilho opaco de nascença e
nada sobra. Destes, sentimos apenas a vontade de pegarmos uma vassoura
e uma pá de lixo, para que possamos varrê-los e assegurar-lhes
o lugar merecido: um canto obscuro da memória.