COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR.

2ª quinzena de setembro

RUBEM ALVES
Ou
O HOMEM QUE SE VESTIU DE ESCRITOR PARA FALAR DE AMOR

Falar de Rubem Alves? Eu? Com que propriedade? Bem, talvez na qualidade de espectadora de uma brilhante palestra, onde o que reinou foi a simpatia, o carisma, o charme com que esse grande homem, mineiro de nascimento e brejeirice, nos brindou por mais de uma hora – as quais passaram voando, devo acrescentar.

A famosa sessão “sou sua fã nº 1”, antes da palestra, foi encarada com um sorriso característico de quem é dono de uma simpatia pelo ser humano que emana de dentro, do âmago. Sentimento esse que todos entenderíamos no decorrer das narrativas, das histórias, das reflexões tão bem vestidas de simplicidade, feitas pelo palestrante.

Rubem Alves envolveu a platéia num jogo de sedução que provavelmente transformou os espectadores que não eram fãs nº 1, em ardorosos admiradores disputando esse lugar de honra. Pela primeira vez na minha vida, me senti um ser humano ouvindo algo que fazia sentido, além da imaginação dos poetas e escritores. Consegui entender Fernando Pessoa, explicado às luzes de Platão, às sombras do egoísmo do amor humano. Eros também estava presente, bem como outros mitos e símbolos, alguns psicanalistas e pensadores, filósofos e escritores, poetas e amantes da literatura, crianças e adultos disputando uma caixa de brinquedos da infância e responsabilidades. Nem mesmo o Pequeno Príncipe escapou dessa odisséia em busca da explicação do amor, lembrando-nos da responsabilidade pelo que cativamos.

Ilustrando a narrativa soberba, as histórias desse mestre da simplicidade e da escrita aberta, rasgada, entremeada por bordados de exímias artesãs da tapeçaria e guloseimas da infância, histórias de professoras regadas por bacias fluviais, tudo com um discreto tempero mineiro e uma lucidez acima da média burlesca e grotesca dos falsos acadêmicos, confessou que escreve quando dá o “ plim ”. Plim ? Plim , isto é, o texto vem pronto, sai de uma vez só. Quando não tem plim ? Brinca o palestrante: ”Aí acho que é pum” - e rimos, todos, embora alguns mais céticos, creio, não tenham entendido isso. Talvez por ser coisa inerentemente típica de escritor por vocação e não por formação.

Bem, simpaticamente, o mestre encerrou a palestra confessando, com a simplicidade e honestidade que lhe são características, que estava cansado.

Não pude me retirar sem antes lhe dirigir a palavra e dizer-lhe que sua responsabilidade para com os quais ele cativara, havia aumentado consideravelmente neste dia, pois a palestra fora brilhante e nos conquistara a todos.

Esqueci de agradecer: finalmente tive, aos quase 50 anos de idade, minha primeira aula sobre o verdadeiro amor.

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