COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Conselheira Municipal da Cultura.

1ª quinzena de maio
(Próxima coluna: 18/05)


Rosa dos ventos

Em meu norte a cabeça repleta de pensamentos. Desconexas idéias, inspirações perdidas em meio ao sono pesado da madrugada. O corpo cansado pesa, a inspiração adormece junto. E se alimento a alma com os espíritos do vinho, se ressente a carne dos desejos latentes, e assim me esqueço dos versos ao amanhecer. Desmaia a poesia ante o erótico e a patifaria assistida nas notícias do dia a dia.

A leste, a mão destra que não mais escreve versos inspirados de amor e de saudades; a prosa irada em favor das virtudes foi trocada pelas vicissitudes dos homens-animais pseudo civilizados sobrevivendo em selvas de metal e concreto, matando os semelhantes em nome da sobrevivência. Sobre a vivência, nada mais me seduz à poesia, ao conto ou à crônica – irônica prostituta que se veste de inverdades.

A oeste sou coração latente, loção adstringente me lavando a alma e fechando gavetas à chave. Sentimentos mascarados, nacarados, mesclados, o sangue já não flui acertadamente, a irrigação dos veios se perde nas veias emaranhadas, nas superfícies empoeiradas, no vermelho do sangue embrutecido pelas desilusões, nas paredes ruídas das incompreensíveis paradas bruscas das ações, no concreto desabado das lajes que não ousei erigir.

Ao sul, uma comichão amadurecida – fruto de desejo da mulher crescida – lateja desejos úmidos, cheiros doces; escorrem líquidos – prenúncios de atritos –; abrem-se portas, alargam-se fendas.

No centro reúno as pétalas das direções, fecho a rosa das intenções, abro as pernas dos desejos, escancaro os sentidos e os sentimentos: sou toda botão à espera do orvalho e do calor do sol. Floresço da terra em busca de segundas intenções; vôo liberta – borboleta das aspirações –, deixo uma pétala como recordação, perfumo o poeta em busca de seus versos; sou universo inverso e avesso às aparições, fantasma das rimas deformadas qual abortos uniformizados das impressões.

Nada em mim é certo, exceto as incompreensões, as confusões, o incerto. Sou latente ser perdido em líquido amniótico. A bolsa estoura e saio feto, infecto de civilização, impuro de cultura, perfeito na perdição dos pensamentos.

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