Presentes

Querido Papai Noel,

Este ano eu não venho lhe pedir nada pra mim. Tive um ano bom, me comportei direitinho e angariei dádivas durante o ano todo. Não publiquei um livro, mas tenho uma coluna no jornal; não ganhei nenhum concurso, mas também não participei de quase nenhum; não ganhei na loteria, mas consegui pagar meus gastos – exceto aquele que o senhor sabe: todo ano fica pra depois, mas ainda domo esse bichinho.
Também não venho pedir nada pros menos favorecidos: é muita acomodação ficar sentada escrevendo o que quero pros desafortunados, jogando a responsabilidade pra cima dos outros.
O que eu quero mesmo é coragem, é garra, é energia pra continuar a luta, pra dar a mão a quem precisa de fato; quero ter condições de dividir o prato de comida, de ensinar o pouco que sei pra quem sabe menos. Quero conseguir fazer, pra poder ser.
O resto é resto mesmo e estou cansada de ver latas de lixo reviradas como se os famintos fossem apenas bichos com dor no estômago vazio. O resto é utopia.
Agradeço antecipadamente,

Uma brasileira afortunada que ainda tem mesa farta e um filho fazendo faculdade.