COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Conselheira Municipal da Cultura.

1ª quinzena de abril - Coluna 64
(Próxima coluna: 18/4)

A FALTA DA FALTA DO QUE FAZER

Passei o dia todo triste, pensativa, chorosa e chorona por qualquer motivo.

Vivo correndo pra baixo e pra cima, pra todo mundo. Faço favores, delicadezas, mimos, doando meu tempo quase que integral aos outros, em detrimento aos meus prazeres pessoais.

Porém hoje eu me toquei de uma realidade triste. Triste demais, a minha contestação incontestável: antigamente, quando eu trabalhava fora, eu era paga para trabalhar e não fazia serviços caseiros, devido ao horário apertado. Todos, em casa, me ajudavam, me aliviavam de certas tarefas. Hoje em dia sou pensionista — chique, né?, mas se a grana fosse tão chique quanto o nome que mais lembra título de dondoca, melhorava, em muito, a minha vidinha — bem, voltando ao assunto, hoje em dia eu pago para que os outros me mandem fazer as coisas que detesto fazer. Logo que me é solicitado algo, tenho que largar o que estiver fazendo — mesmo que eu esteja simplesmente ocupada no banheiro, com tarefas pessoais indispensáveis. Nada do que faço como "lazer" como a família diz, é respeitável. Tratam-me como se eu passasse o dia todo batendo papo furado, jogando on line, em chats, ou simplesmente "bundando com o Frederico" (como se dizia antigamente). Escrever, para eles, é o mesmo que não fazer absolutamente nada. Talvez pq isso não dê frutos, não retorne grana, sei lá! Além de ignorarem minha pretensa profissão e não me darem absolutamente nenhum tipo de incentivo, ignoram minhas conversas: nada do que eu digo ou penso em voz alta é digno de nota. Um monte de concursos e projetos, eu doidinha pra participar, mas tendo que revisar e escrever e... impossibilitada, por absoluta falta de tranqüilidade e tempo.

Assim, não há "cristão" que resista. Estou pensando seriamente em, ao invés de parar de escrever, parar de ter família, parar de me deixar ser feita de "ser inútil e sem importância".

Ninguém tem tempo pra notar que sou real, humana, de carne e osso. Só na hora "daquilo", o marido se lembra de mim — talvez até porque eu seja o desafogo mais próximo, apenas isso: problema de falta de escolha mesmo. O filho só me pergunta se estou chorando e o porquê disso, se for na hora em que estou cozinhando — vai que eu salgo a comida com minhas lágrimas!

Estou cansada desse profissionalismo multitarefa a que me obrigam: mãe, mulher, telefonista, arrumadeira, cozinheira, lavadeira, motorista, office-girl, filha, recepcionista, babá, auxiliar de escritório, dicionário, revisora de postagens em fóruns de informática, faxineira, relações públicas, digitadora e, a pior de todas, aquela incumbência que dá prazer a todos aqui, menos a mim mesma: provedora! Recebo meu salário, pago todas as contas de todo mundo e não me sobra nem pra uma cervejinha no final da tarde — "ah, mas isso é coisa pra desocupados, e tempo sobrando você já tem todo do mundo! Tá com a vida ganha! Só vai ao banco receber todo mês, e nem teve que trabalhar pra isso!" — dirão meus tiranos.

Eu, heim? Acho que vou fazer as malas. Afinal, meu pagamento sai logo pela manhã!

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