2ª quinzena de abril - Coluna 65
(Próxima coluna: 3/5)
O passarinho e a águia (*)
Luiz trabalhava como guia turístico. Numa de suas viagens a trabalho, em Porto Velho, não conseguiu lugar no avião daquela manhã para voltar para São Paulo a tempo de se organizar, trocar as malas e embarcar em outra excursão, dia seguinte, rumo à Europa, a qual lhe renderia uns bons trocados.
Lembrou-se de Marcos, um amigo que às vezes contratava, proprietário de uma pequena empresa com aviões de pequeno porte. Torcendo pra que o amigo estivesse na cidade ou em local onde fosse fácil localizá-lo, dirigiu-se à sede da empresa. Pra sua sorte, Marcos não só estava em Porto Velho, como estava de saída em um dos seus aviões rumo ao interior de São Paulo, para revisão. Aliás, revisão, não: reforma, pois tinha uma vela vazando óleo no motor do velho “Skylane”. O destino do avião era Marília. De lá para a cidade de São Paulo, não seria problema e haveria tempo hábil para que Luiz embarcasse para a Europa. Assim, organizaram rapidamente o esquema da viagem, e Luiz embarcou de carona com o amigo. Uma escala em Cuiabá, e, no bar do aeroporto, relaxaram alguns minutos colocando o papo em dia. Conversa daqui, conversa dali, afundaram o pé na cerveja até um pouquinho antes de chamar urubu de meu louro...
Continuaram viagem e, a certa altura do vôo, um pouco mais acima, avistaram um jato da “Varig”.
De repente, pelo rádio, num emaranhado de códigos, ouviram o aviso, que era quase uma ordem:
“Desce passarinho!!!!”
A primeira reação foi ficarem ofendidos, mas o bom senso prevaleceu. Marcos verificou os instrumentos e se deu conta que a altitude do pequeno avião era crítica, de tão alta. Ajuizadamente Marcos manobrou e desceu lentamente para teto seguro.
Essa história ficou arquivada na memória dos dois, da qual tiraram uma bela lição:
Existe um limite para o vôo do passarinho e outro para a águia. Passarinhos devem ficar no seu lugar.
Da cerveja eles não desistiram...
(*) Baseado em fato verídico, vivenciado por meu marido, Luiz Carlos.