"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna de 15/10
(próxima: 15/11)

1. José Luís Marengo, escritor e professor, meu amigo e correspondente desde 1993, afirmou que a coluna que escrevo no Jornal Correio do Sul, Diversos Caminhos, depois de mais de trinta e sete anos percorrendo as estradas da literatura e poesia, já merece uma retrospectiva. Então eu fiquei pensando no assunto. Como proceder, reflito, para realizar essa retrospectiva sugerida? Caríssimo José Luís, me remeta mais detalhes dessa sua idéia, quem sabe a coisa possa dar certo.

2. “É extraordinário que Kafka nunca tenha terminado seus romances e Borges nunca tenha começado os dele" (Martin Amis). Amis disse que "a literatura vive por meio do leitor". Esta opinião, aliás, me foi passada há cinco ou seis meses por Carlos Mançano, de Pratápolis. Segundo Zé Maria, trata-se de uma realidade indiscutível.

3. DESTINO
       
    Na velha roseira
    os espinhos permanecem
    e as rosas fenecem.

Haicai do poeta, escritor e cronista Osvaldo Sá (Maragojipe/BA)

4. O sol chega e dá de encontro com Rodolfo Serkin lendo o poema "Cotovia", de Manuel Bandeira. Aliás, o sol chegou mansamente fazendo brilhar os telhados das casas de Varginha. MPB com guitarras elétricas, pelo amor de Deus!!!...

5. "(...) O espírito é invenção do corpo. O corpo é uma invenção do mundo. O mundo é uma invenção do espírito." - Octávio Paz. "Sendo um perdido, por sorte, / escrevo com sede de morte, / e, insaciado das cinzas, / renasço / a cada verso que eu faço." - Urhacy Faustino.

6.

HARMONIA

Havia céu e solidão.
em silêncio
uma estrela
ardia orgasmo
na escuridão.

Idalina Carvalho (Cataguases/MG) - "quase pecado" - página 46

7. “O poeta Murilo Mendes foi ao enterro de André Breton, tendo visto no caminho grandes grupos de "beatniks" saudar, pela última vez, o fabuloso maldito e surrealista. Era conhecido como um dos maiores inconformistas do plantea. Segundo Murilo Mendes, a figura do tamanduá invocava Breton.

8. Gilda, terça-feira de manhã, me pediu que publicasse aqui um poema de poeta africano. Atendendo ao seu pedido, aqui está ARTE POÉTICA, de José Luís Mendonça (Luanda/Angola)

                  Que erosão
                  no choque genésico das marés
                  de encontro às pedras habitadas.

                  Cai areia na areia.

                  Assim o gosto da palavra,
                  limando os duros conformismos
                  libertando as verdades mais remotas
                  tão necessárias ao fruir dos gestos.

9. Uma boa posição para LOSANGO CÁQUI, de Mário de Andrade. 1922. Complexidade viva. Disse Mário Chamie: "de construção e comunicação poéticas, no âmbito de nosso modernismo". Há um sub-título de "Losango Cáqui": "Afetos Militares dos porquês de eu saber alemão". Vem novamente Mário Chamie ("A linguagem virtual", Edições Quíron): "Na evolução, já não direi da poesia, mas do texto brasileiro, ele ocupa posição ímpar." "Losango Caqui", embora escrito em 1922, só foi publicado em 1924. Mário de Andrade, pela primeira vez, fala em "sentimento pau-brasil". E dentro do movimento modernista, Mário de Andrade faz ressalva ("a obra tem todas as características de poesia"), dizendo que, a rigor, não se trata de poesia, e Mário (Chamie) explica: "Sensações, idéias, alucinações, brincadeiras liricamente anotadas". Escreveu, então, Mário de Andrade: "Raro tive a intenção de poema quando escrevi os versos sem título deste livro".

10. Mãe

Sabor de folhas de louro
ameixa-de-sorva, cumã
vinho de dúlcida uva
botão de flor entreaberto
na silvestre amoreira
e o aroma
            em minhas narinas,
            em meu sangue
            em meus sentidos
de mim nunca se evapora.

             Marco Scalabrino — tradução de Adelaide Petters Lessa. Scalabrino é italiano, autor do livro "Tempu palori aschi e maravigghi", em dialeto siciliano.

11. E disse o poeta Antonio Cícero: "O poema exige o máximo de todas as minhas faculdades trabalhando ao mesmo tempo".

12. “(...) Tua alma é uma flor — não a deixes secar. / Tua alma é uma fonte — não lhe turves. (...) Tua alma é um poema — não lhe roube a poesia. (...) Tua alma é um sopro de Deus — defende-lhe a vida." - Humberto Rohden.

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