"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna de 15/1
(próxima: 15/2)

1. Ante a curiosidade das pessoas, na praça, ele pegou lata de massa-de-tomate e fabricou uma capela. Depois chutou uma lata de cerveja e saiu indo avenida abaixo.
     A moça mergulhou a cabeça numa clara réstea de alegria.

2. A rosa, louca, delira:
dança nos braços do vento;
ondula, volteia, gira...
e morre em deslumbramento!
    
          Maria Thereza Cavalheiro
          Menção Especial no 1º Concurso Nacional de Trovas de Rio das Flores, 2000, do Cons. Mun. de Turismo e Pref. de Rio das Flores - RJ e UBT - Valença - RJ - tema "Flores"

3. "O verdadeiro herói, no sentido clássico, é aquele que não morre nem se enterra. Quando nasce, traz o sol à vista; quando vive, tudo faz para que ele não se ponha." — Ascendino Leite

4. . PESSOA(S)
Não cabem duas cabeças
Debaixo do mesmo chapéu?
Em Fernando Pessoa
Cabiam várias.

- Cláudio Feldman / Santo André/SP, in "Papéis achados na bolsa de um canguru".

5.  De repente, me lembro que Juracy Ribeiro, de São José dos Campos (SP), numa carta que me mandou há mais de ano, disse que só me conhecia via Blocos/Leila e confessou que gosta muito do meu modesto trabalho: "sua sensibilidade me toca sempre". Tenho certeza de que já mandei alguns diversos caminhos para Juracy que é poeta das boas. Fico implicado comigo mesmo porque já não disse isso a ela. Juracy coordena oficina na Fundação Cultural Cassiano Ricardo. E eu chego ao final dese parágrafo com um poema de Juracy Ribeiro: "adiante, meu camelo/ e suas pegadas/ sua sede/ sua tigela de mendigar/ neste deserto/ descarnado// em mim/ as corcovas/ de um passado/ arenoso".

6. rompendo as camadas
procurando o seu eu
o poeta cava e cava
fazendo assim trincheiras
que noite e dia resistem
aos ataques verbi-voco-visuais
do inimigo diluído e sem rosto
cerceado de mentes

rompendo as camadas
procurando o seu eu
encontra seres, essências e magmas

descobre que ao seu redor
nem todos são humanos vegetais

       Artur Soares da Cruz

7. Isso mesmo. A caixa d'água está cheia de almas sem ar e perdidas. Num gesto de erro incorrigível, os papéis e pedaços (retalhos) de pano vão sendo atirados no baú.
    A praça continua barulhenta. Chega aos meus ouvidos um som de flauta. Chamem fogueteiros, eletricistas e zombeteiros e deixem que a moça conte a história de Castro Alves.

8. "Um galo desses guampos bem voz grossa / cantava compridamente morno / Outros galos toavam em abono / e noite oscilava sono e fossa"... escreveu I. Volpato. Pois ontem vi um galo igual, lá na Fazenda Jabuticabal, em Elói Mendes. Ele cantou guapo e voz mais pra rouca no pomar. Pouco depois um ligeiro susto, um lagarto de quase dois palmos passou correndo. Depois, abacates miúdos caíram do abacateiro. Alguns empregados aguardavam ao lado da kombi da fazenda. E eu deflagro o cabecinha-de-fogo cantando na ponta do abacateiro. E disse Volpato: "Na mansarda uma vela se acendeu / braseiro em vogão se avivesceu / lumiando telheiro de sapé"...

9. De manhã eu havia pensado em escrever para duas pessoas, Patrícia Pires e Ona Gaia. Mas, para ela, deixei para outra oportunidade. Quanto a ele, pra lhe dizer a verdade, não sei por onde anda Ona Gaia. Urhacy Faustino, em Maricá (RJ) deve saber.
    E já que falei em Ona Gaia, vou pegar na prateleira o livro dele, "Heavy Poema" e mostrar um poema para você, caríssimo Cícero Pedro Assis. Este "GIRANDO CONTRÁRIOS", por exemplo: Todos futuros mistérios / curtirão ventos andarilhos / de sorrisos aéreos / e os padres, pastores e deuses / darão lugar às luzes invisíveis / aos sons inaudíveis / de nenhum ser sério".

10. PENSAMOR

Como pesa pensamor
moeda de ouro em minha palma
sem que o perceba o doador

Como é leve pensamor
no peito que se abre em palma
para a seta que o acertou.

Henriqueta Lisboa

11. "Santiago é uma cidade muito bonita e poluída, apesar das extensas áreas verdes. Nos raros dias sem fog pode-se ver a leste a Cordilheira dos Andes e suas neves eternas. Sua presença é tão forte que, mesmo quando está invisível, a gente sente que ela está logo ali, alguns poucos quilômetros adiante do elegantérrimo bairro Las Condes. Santiago lembra São Paulo — ou qualquer grande cidade latino-americana — em algumas coisas. A área central parece uma ilha da fantasia, limpa, afluente e branca, cercada de favelas, ou poblaciones, sujas, miseráveis e índias. Os carabineiros estão em toda parte, seja no sofisticado shopping Parque Arauco, cheio de grifes famosas, seja no mercado persa Bio Bio, cheio de quinquilharias e produtos de procedência duvidosa. Na periferia da cidade, bombeiros e seus filhos pedem contribuições nos sinais de trânsito". Arthur Dapieve - fragmento da crônica "O guarda maquiado", in O Globo de 27/04/2001.

12. Muita gente diz e, às vezes, acredito mesmo que a lua é vaidosa.

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