"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO
Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG
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Coluna nº 20, de 15/4
(próxima: 15/5)
1. Uma vista esplendorosa do Rio de Janeiro se abre entre nuvens e mar. Na montanha há uma transfiguração de sonhos. Urha, de repente, recorda Helvécio Sampaio: "... O Anjo viaja/asas azuis/no fio do Tempo// a música marca/ pulso e impulso/ das esferas// (...) o vento leve/ toca/ a copa das árvores."
2. Hoje, "os mortos não têm ausências:/ eles dormem sob o metal/ de um céu escuro - / e ali é onde o dia é um caroço de treva" (Gabriel Nascente).*** Confio demasiadamente no gosto de P. H. Xavier, me diz álguém. Pois eu também confio. *** Vejo P.H. Xavier e lhe conto sobre essa opinião. Ele me trazia: "COZINHEIRO DAS ALMAS" - eu raspoo cão/ no fundo da panela // um cão dadá / sem forma e torrado" (Arthur Omar).
3. Não, eu não matei o pássaro. Ele amanheceu caído na praça. Era um pardal. Sei que a medida de quem o matou está no próprio pássaro, morto antes do vôo. *** O angustiado, infalivelmente, abre o colarinhoem meio a uma conversa.
4. Paredes gastas, rachadas/ da casa abandonada,/ nas tuas frestas existe saudade/ de mãos que outrora te acariciam", disse Regine Limaverde. *** Pois é, meu caro Carlos Barros, "quanta saudade se escondendo/ por trás do hoje vazio/ quanto poema abortado/ na censura do poeta". Diante do mar, Barbara Norton exclamou: "Eu ainda não havia descoberto a palavra".
5. O homem da nave transpira/ coragem"... A vida, não sei (J. Cardias sabe, porque já falou) é curta e vã, cheia de atropelos. Vislumbro sonhos antigos, não diante do copo vazio, como disse Carlos Barros, mas olhando a torre da Igreja que há muitos anos não bate horas.
6. Em algum lugar ainda há cigarras. Dione Veiga falou que "em algum lugar/ ainda haveria/ acácias." O sol que o trigo ilumina, que doura as espigas, é abundante. No mais, é o ÊXTASE de Aridinéa Vacchiano: Pelo teu corpo/ num mar sereno,/ navego.// Partida e encontro/ num mar ameno.// A chama aumenta,/as ondas crescem/ no êxtase claro/ que a paixão tece.
7. "Como aconteceu isso? De que maneira o homem, no auge de sua vitória sobre a natureza, torna-se prisioneiro de sua própria criaçào e corre o sério risco de se destruir?..." (Erich Fromm).
8. Não foi ninguém. Foi esta tarde chuvosa que me levou a comparar a vida a um caminho muito longo, cheio de curvas. "Meus olhos sentem saudade/ da paisagem que findou." Aqui, em casa, na rua, tudo, nesta tarde chuvosa, me fala de um caminho que vai. No entanto, "tenho os olhos acordados em outros/ olhos indiferentes." Frases poéticas de Maria Amélia Trindade (Goiânia/GO).
9. Veja, meu caro, essa frase é igualzinha àquela de Mallarmé. Se não me falha a memória, nela se desdobram serenas alegrias. *** "Minha solidão/ transpira de espanto/ com o teu espanto." (Dimas Macedo). *** P. H. Xavier me dizendo que acha que aqueles últimos versos que fiz foram cozidos em fogão de tijolo. *** "Alguém preparado/ para receber/ no instante precário/ a própria nudez". (Francisco Alvim)
10. Uma borboleta, zonzinha, sem saber pra onde ir, esvoaça, quase chegando à varanda. No telhado das casas vizinhas, a chuva se desfaz, mansa. Eu vejo da janela. No mais, é como disse Sérgio Campos: "Janelas são espias/ que à falta de surpresa/ tateiam as paredes/ cegas/ das sombras".
11. Nos dias chuvosos, como disse Clarice Lispector, nada melhor que nos entregarmos em palavra. Segundo Mário da Silva Brito, "tragédias não faltam ao nosso tempo. O que não temos é um Shakespeare."
12. Estou quase concluindo que esta chuva de que hoje estou falando é a chuva oblíqua. *** De permeio, o poema RIMAR DAS HORAS, de Newton De Lucca (SP/SP), em "Desviagem": o ente sente/ descontente/ tão somente assegurada/ a eterna companhia do nada. *** Por falar, essa pressupõe desespero, visão, culpa e senso de responsabilidade. *** "A noite dormia/ com homens muito cansados/ gerando o silêncio... ", disse Leonilda Hilgenberg Justus.