"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO
Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG
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Colunanº 21, de 15/5
(próxima: 15/6)
1. Sonha o porco deitado no chiqueiro. Com quê ou quem sonha ele?
2. Tópico do DIÁRIO, de Aristides Theodoro (Mauá/SP): "05/05/2005 - À noite, com Iracma, fomos a uma reunião literária, na casa de Cecília Berlamatti, em São Bernardo do Campo: a Therezinha S. Malta, Irineu Volpato, Iracema, a anfitriã e eu. Conversamos muito sobre ltieratura, tiramos fotos, lemos poesia e comemos muita pizza (salada), bebemos vinho, comemos frutos, doces, etc; Uma noite memorável, que deve ter continuidade.".
3. BICO DE PENA
Muro de folhagens e papoulas
assim minha alma
onde se esconde pássaros
Maria de Lourdes Hortas
4. Recortar e guardar esse fragmento de Pacoal Motta: "Para quando chegar a noite / a tua luz de seiva e vinho".
5. Uma estrada de pedra. Sim, caríssimo Pedro Ernesto, Vargas Llosa é um grande talento. A hora do sonho, É um título, talvez venha a sê-lo de uma crônica. O estímulo como resposta. Jocasta saiu sozinha e encontrou um sol perdido. As sementes dançam debaixo da terra e as minhocas acompanham. Debaixo d'água os peixes dançam.
6. A CONSTRUÇÃO DO MEDO
Brasigóis Felício Carneiro (para Zanoto)
O povo do gueto elevou à categoria de arte
a construção do medo
Os que nascem no morro aceitam o destino
de querer morrer mais cedo
Na cidade de Deus bala de AR-1.5
mata menino antes dos quinze
Ninguém pode ser inocente na cidade
onde o pecado mora ao lado
Cada um pode ser culpado
onde tudo dá errado
Há uma certa metástese
na febre terçã da cidade
Há um indício de quisto
no suplício do Simplício
Seria um tormento e tanto, se não fosse
um sofrimento de Tântalo
Atrás do trio elétrico sempre vão
os que não nasceram
Na banda larga do ego navegam
os que há muito já morreram.
7. A passarada gritou quando viu o gato. Alguns até tremeram. Na sala, eu e P. H. Xavier papeávamos. Havíamos falado, primeiro, de Gabriel Garcia Marquez. P. H. Xavier me contou que Rodolfo Serkin havia dito alto e bom som que Silviano Santiago é genial. Em cima da mesa o livro POEMAS BALZAQUIANOS de Ubirajara Galli. A esmo abrimos uma página: VENTRE MAR, um delicioso poema (pag. 39): Deixarei que a minha barba cresça/ para que a natureza/ seja comum./ Quando minha boca cobrir/ a extremidade do seu útero./ E pescador,/ atirarei minha língua/ no ventre mar. (Ubirajara Galli).
8 . Alguém discute "Lavoura Arcaica", de Raduan Nasar, lá fora. Escuto. Aliás, não li ainda esse livro. Recebo sempre as melhores informações sobre ele. Minha atenção, agora, se vira para o livro THE BOX MAN, de Josiel Vieira de Araújo. Letícia de Castro me disse que o leu e gostou muito. "The Box Man" foi premiado na categoria novela/1998 (II Festival Universitário de Literatura) Xerox e Livro Aberto. No céu, vejo agora, um avião passa, e me recordo de uma viagem a Fortaleza.
9. As mãos não alcançam...
Sob a jabuticabeira
Fábulas antigas..
Dia da criança. Passeio com as crianças da creche pelo Parque Ibirapuera. E, de repente, uma jabuticabeira!
As grutinhas brilham no tronco robusto e se multiplicam nos galhos. Mas as mãos não conseguem alcançá-las... (Teruko Oda)
10. A chuva forte./ rapidamente se foi/ no final do dia/ onde o tempo parece parar/ com a chegada da noite" (Martinho Conde) *** A lua-minguante está lá em cima, no céu. P. H. Xavier acha que a gente deve renovar, diariamente, ou periodicamente a alegria. Alguém me perguntou. Trizteza vale a pena? Me lembro que o Senador Artur da Távola aconselhou, certa vez, que não se deve confundir triseza com infelicidade. Ele disse que tristeza é ruim, mas algumas deixam bom gosto.
11 . " Eis o Universo num
grão de areia
E o paraíso numa
flor selvagem
Ter o infinito na palma da mão
E a eternidade em uma hora."
William Blake
12. ESCULTURA - O resto/ talhado em pedra/ na face da montanha/ olha e me chama/ à carícia/ as mãos que correm/ percorrem a superfície/ acordam o fogo/ e temperam a lâmina (Aglaia Souza - Brasília/DF). *** E lá ia eu — menino — de botinas, caminhando sobre os trilhos da estrada de ferro. Eu e meu pai, numa certa noite, papeando, bebemos duas garrafas de Grandjó. *** Disse Cláudio Feldman: "O ciúme é a cárie do amor". *** "A função do poeta é conhecer, contra o agnosticismo dos que respondem com o silêncio" — li esta afirmação nao sei onde. Lá fora, na praça, vai passando agora um cão sem plumas.