SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 2 |
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ANDRÉ MARTINS -
Redator publicitário de longa data. Nascido na equidistante e fronteiriça cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul. Reside em Porto Alegre. Publicou o livro de poesias Eus & Outros Nós, em parceria com Jefferson Carlos Carus Guedes, no distante ano de 1983. Participou da coletânea Ex-poemas, de 1985. Editou o jornal de humor Gim c/ Crônica. Depois disso, manteve-se no mais severo anonimato, sempre a transpirar e buscar o aperfeiçoamento da linguagem. Escreve a coluna Tempestade Cerebral no site argumento.net e publica artigos no site adonline. Escreveu os livros O Sanat´rio do Nosocˆmio, Poemas Infantis Reciclados para Adultos e Poexos, todos inéditos, mas blogados, para permitir o acesso de eventuais interessados. Acredita que a força tácita da poesia pode causar uma calamidade íntima, sempre bem-vinda. |
a casa na parede
a casa está pendurada na parede
quatro janelas longilíneas com sacadas
duas de cada lado da porta central
que abre para oito degraus de escada
dos lados dela e sob as quatro janelas
uma duas três quatro escotilhas
do submarino submerso do porão
deixando de fora a garagem vazia
o quadro não mostra os cômodos
os números um sete e sete na entrada
o mil novecentos e treze lá no topo
a campainha que pede para entrar
as portas abrindo para os quartos
os vestígios das vidas passadas
as linhas não contam histórias
no desenho em tons azulados
mas para quem entrou pela porta
conviveu com o veludo dos cômodos
fez sala de lareira acesa ou apagada
penetrou nos pátios de flores uvas
butiás pêssegos goiabas e bergamotas
comeu na mesa de madeira da copa
a carne de panela com molho de tomate
colhido num daqueles pátios cercados
se auscultou no submarino do porão
viu o sol se deitar pelo corredor
o frio congelar até pensamentos
ouviu conversas e fez conifissões
sorvendo conclusões sucessivas
e espiou a rua pelo detrás das janelas
a casa está tomada de lençóis brancos
pendurados no fino delírio da memória
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