A SAUDADE

 (Ouvindo ler na cadeia pública do Rio de Janeiro a sua sentença de morte)

Não me afflige do potro a viva quina;
Da ferrea maça o golpe não me offende;
Sobre as chammas a mão se não estende;
Não soffro do agulhete a ponta fina.

Grilhão pesado os passos não domina;
Curel arroxo a teste me não fende;
À força a perna ou braço se não rende;
Longa cadêa o collo não me inclina.

Água e pomo faminto não procuro;
Grossa pedra não cansa a humanidade;
O pássaro voraz eu não aturo.

Estes males não sinto; é bem verdade;
Porém sinto outro mal inda mais duro:
— Sinto da esposa e filhos a saudade!

                                                 Alvarenga Peixoto

Do livro Collectanea de Auctores Mineiros, organizada por Mário de Lima, vol. I, Imprensa Oficial, 1922, MG
Enviado por Leninha

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