JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida e O silêncio do delator, que acaba de obter o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL (clique no título da obra para ler a fortuna crítica).
Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor
Coluna de 15/09
Chapéu estendido para o vilão
Quem será o candidato à Presidência dos cidadãos brasileiros que pedem pelo correio esmolas a Marcos Valério?
Depois da careca, dos bigodes e do barrigão de Paulo César Farias, o P. C., o Paulinho Gasolina, e das toscas figuras dos “anões do Orçamento”, enfim o Brasil ganhou um vilão com physique du rôle de respeito, alguém que lembra o Dr. Silvana das histórias em quadrinhos e o Goldfinger da série de filmes de 007, embora não seja tão obeso quanto este. Marcos Valério Fernandes de Souza tem tudo para conquistar no imaginário nacional o lugar que foi de Odete Reuteman da novela das oito ou do bandido da luz vermelha imortalizado nas páginas dos jornais e na fita clássica de Rogério Sganzerla.
Publicitários do Brasil inteiro escrevem insistentemente para os jornais exigindo que ele não seja definido como tal. A respeito consta uma anedota singular: dizem que, concluído o novo prédio de uma de suas agências, viu-se que não estava prevista sequer uma saleta para o pessoal da criação. Para quê? O negócio ali era tomar dinheiro emprestado de bancos de risco e emprestá-lo para petistas do peito. Os banqueiros não vão aceitá-lo como colega. Nem os agiotas. A solução será talvez chamá-lo de empresário, já que empresas não lhe faltam.
Vilão sem ocupação claramente definida, de coco raspado e sorriso de desdém sempre a sublinhar o frio olhar de réptil, Marcos Valério está com tudo e não está prosa no campeonato nacional da execração pública. Nem Delúbio Soares com sua barba de irmão Metralha, sua linguagem tosca e seus ternos de novo rico é páreo para ele. Nem por isso, contudo, ele deixa de ter seus admiradores. Basta ver a correspondência que chega ao escritório onde costuma se reunir com seus advogados para montar a série de mentiras que conta à polícia, ao Ministério Público e aos membros das CPIs. Não são ovos nem tomates podres, mas pedidos de ajuda!
Eduardo Kattah, de Belo Horizonte, contou aos leitores dos jornais desta empresa que o inimigo público número um do Brasil “agora recebe cartas e mensagens com propostas e pedidos de todo tipo”. O Movimento dos Sem-Computador, de Recife, chama-o de "Vossa Excelência", desanca seu delator Roberto Jefferson e convoca-o a doar equipamentos cibernéticos para o “trabalho social” da organização. Uma mulher de Cássia (MG) pede-lhe a infra-estrutura necessária para montar uma emissora de TV para os espíritas, já que religiosos de outras confissões dispõem desse instrumento de comunicação de massas. São comuns pedidos de camisas de times de futebol e patrocínios para a abertura de boates ou publicação de livros. Uma mãe-de-santo se ofereceu para tirar o trabalho da ex-secretária Fernanda Karina Somaggio por R$ 6 mil. Há ainda pedidos de casamento.
O repórter registra que advogados e réu riem muito. Está certo: rico ri à toa, não é mesmo? Não crê, porém, este escriba de vocês que este possa ser o nosso caso. Talvez seja o caso de chorar. Ou de alertar a quem não acredita na hipótese da reeleição do desgastadíssimo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que é bom não encomendar o chope da festa da vitória antes do tempo. Se há tantos brasileiros que ainda apostam na generosidade de um cidadão que pública e notoriamente violou metade do Código Penal e inúmeros preceitos da ética comercial, imaginando-o capaz de abrir mão de parte da fortuna para lhes resolver problemas pessoais, como descartar quaisquer possibilidades de o presidente se reeleger? Com a máquina pública sob seu controle; um palanque voador capaz de percorrer o Brasil de Norte a Sul; os cofres da viúva escancarados para bancar o assistencialismo desenfreado; marqueteiros oferecendo préstimos; empresários solícitos prontos para socorrer parentes em dificuldade e tudo o mais, Lula pode ter a tarefa dificultada por escândalos como o do “mensalão”. Mas impossibilitada, quem vai garantir? Afinal, quem será o candidato dos brasileiros que pedem esmolas ao vilão da vez de forma tão estúpida e descarada?