Mito em contexto - Coluna 01
(Próxima: 20/5)
Fênix e Samsara: a existência cíclica
Há o ciclo da água e a mudança das estações. Plantas germinam, florescem e morrem. O fruto contém a semente que voltará a ser fruto. Dormimos e acordamos. Há o ciclo menstrual, as fases lunares, o sistema respiratório e os movimentos de rotação e translação da Terra: ritmos, fluxos.
Elementos químicos, físicos e históricos passam por transformações. Vários processos de mudança acontecem o tempo todo na natureza e no ser humano. As renovações e transformações representam os ciclos pelos quais tudo o que é vivo passa.
De acordo com algumas religiões, o ser humano passa diversas vezes pelo ciclo de nascimento e morte, como se estivesse preso a uma roda em movimento, que faz com que a existência se repita tantas vezes quantas forem necessárias.
No decorrer de sua história, querendo dar sentido aos elementos desconhecidos da realidade, o homem produziu variados símbolos. O símbolo traz em si o significado daquilo que representa. Assim, dois símbolos importantes representam a morte e o renascimento na natureza: a ave Fênix e a roda do Samsara.
A mitológica ave Fênix era símbolo da alma entre gregos, chineses e egípcios. Segundo vários mitos, quando acabava seu tempo de vida, ela fazia um ninho com ervas e incensos e expunha-se aos raios de sol, sendo consumida pelas chamas. Das cinzas, renascia uma nova Fênix. Quando uma chama se apaga, outra se acende. Quando uma alma deixa um corpo, passa a habitar outro corpo. Esse é o princípio da reencarnação, presente em muitas religiões.
Desde os tempos antigos, o fogo é adorado por muitos povos, como símbolo da energia que anima a vida, seja na forma de fogo ou como o próprio Sol. O Sol está presente nas cores vermelhas e douradas com as quais a ave Fênix era representada. E essa ave passou também a ser um símbolo do Sol, que morre todo dia no horizonte e volta a nascer no dia seguinte.
Durante alguns períodos da arte Cristã, a Fênix, como símbolo de ressurreição e renascimento, foi popularmente associada a Jesus Cristo, que morreu e ressurgiu na Páscoa. É como se Ele, depois de dar a vida em sacrifício pela humanidade, recebesse uma vida nova, como a Fênix.
Atualmente, o cristianismo não aceita a idéia da reencarnação, apenas a da ressurreição. E não há karma, pois a pessoa vive uma nova vida na “eternidade”, a vida eterna e imortal.
O conceito de karma é utilizado em religiões como Budismo e Hinduísmo. Karma é a lei de ação e reação que faz girar a roda do Samsara. Para budistas e hinduístas, Samsara é a roda, ou círculo, que simboliza o ciclo de morte e renascimento, o eterno retorno da alma ao mundo, a reencarnação - quando a alma ou espírito deixa um corpo através da morte física e renasce em outro.
O objetivo da reencarnação seria a evolução espitirual, ou seja, compreender o eu e o mundo para sair do ciclo nascimento e morte, libertando-se da roda do Samsara. É o que diz, por exemplo, nos Vedas, escritura sânscrita milenar estudada pelos hinduístas.
Cada vez que a alma renasce, há uma oportunidade de aperfeiçoamento e libertação. Os atos praticados em cada reencarnação definem o karma de cada um na vida futura, ou seja, o karma é determinado pelo acúmulos das boas e más ações.
Mas, para sair da roda do Samsara é preciso mais do agir corretamente, fazer dietas, orações e yoga. É finalmente descobrir a nossa natureza divina, chamada Brahma, para conseguir a libertação final. Para os budistas, esse estágio final é a Iluminação, quando o indivíduo torna-se um “buddha”, em sânscrito, iluminado.
Sidarta Gautama, o príncipe que renunciou ao mundo em busca de sabedoria e iluminação, depois de trilhar um longo caminho, compreendeu a verdade sobre o Universo, tornando-se um iluminado. Buda, como foi chamado depois, passou seus ensinamentos enquanto viveu, pelo bem dos que viviam na ignorância .
O Nirvana é a libertação total da reencarnação e do sofrimento. Segundo o budismo, é possível parar a roda de reencarnações e atingir o Nirvana através da prática e entendimento de oito passos, o Nobre Óctuplo Caminho. Para Buda, o sofrimento é a causa dos nossos problemas. Esse sofrimento é gerado pelos desejos e apegos. Devemos viver de acordo com o reto agir – o Dharma – para libertação do sofrimento e do karma.
Os movimentos kardecista e espírita enfatizam a continuidade da vida depois da morte do corpo físico, principalmente a idéia de reencarnação como evolução para os espíritos ou expiação de faltas cometidas nas vidas anteriores. Essa expiação não é exatamente uma penitência, mas uma possibilidade de progresso individual e coletivo.
Em todas as religiões que aceitam a idéia da reencarnação, o principal é que somos responsáveis pelo nosso destino, a partir do modo como agimos. Fênix tem consciência do seu destino e sabe que precisa renascer. Se não temos certeza das reencarnações, podemos, nessa vida, ter consciência dos nossos ciclos e renascer para novas fases um pouco mais lúcidos. Quem sabe até superamos o Samsara.