Emoções reais
O mundo virtual é impessoal e sem sentimentos. Não se trocam idéias, a comunicação tem direção única e afasta as pessoas do contato olho no olho. Cansamos de ler frases desse tipo. Mas também lemos e ouvimos ótimas referências sobre a internet. Como toda revolução, estando no meio dela ainda é difícil falar sobre os seus resultados, mesmo assim, podemos sempre falar de alguns benefícios que a internet traz para o nosso cotidiano.
Parodiando o título do livro de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, imagine um "Ensaio sobre o mundo sem computadores". Certamente, depois das experiências que tivemos nos últimos dez anos com o ciberespaço, seria meio caótico ficar sem computadores nas empresas, bancos, hospitais e até sem os computadores caseiros. Vivemos sem eles até bem pouco tempo, mas nossa estrutura atual depende muito deles.
Um dos aspectos mais comentados sobre o uso de computadores é o de que as pessoas deixam de se relacionar com as outras. Mas talvez seja o contrário, pois hoje um dos meios mais fáceis de conhecer e conversar com alguém é através da internet. Claro que há várias formas de fazê-lo e cada um vai se adaptar aos seus próprios objetivos.
Comunidades virtuais como Orkut representam um pequeno mundo nas relações sociais da atualidade, pois possibilita a troca de informações e o ganho de amizades e amores através da internet. E possibilita a perda também, já que um grande problema é a falta de privacidade dos dados à mostra, o que pode provocar reações como ciúmes. Mas com milhares de pessoas com perfis e imagens tão interessantes, não será difícil achar uma princesa ou príncipe encantado.
Mas não é exatamente encantanda no sentido dos contos de fada a pessoa com quem dialogamos. Falamos com um ser humano através do computador. E inteligência dos animais ainda não permite que eles usem o teclado com eficiência. Quando estamos na internet a relação também não é com o computador, é com as pessoas que imaginamos que estão nos ouvindo, lendo, escutando. Se muitas pessoas só são sociáveis através dele, se a pessoa se isola do mundo externo e só se sente segura com relações através da internet, é outra história.
Não podemos dizer que o computador afasta as pessoas, quando muitas estão juntas por causa dele e através dele. Temos que saber dosar nossas experiências, tanto nas relações reais como nas chamadas relações virtuais. Discute-se muito também qual a relação entre os termos real e virtual. Virtual não é físico, mas a simulação de algo que não está no real, não está presente.
Assim, houve a simulação da festa de aniversário da Leila Míccolis, uma das fundadoras, sócia e editora de Blocos online, entre os dias 28 de dezembro de 2005 e 2 de janeiro de 2006. Ninguém poderá dizer que não houve interação entre as pessoas que lá escreveram.
Durante quase uma semana, amigos chegaram no tópico da festa e deixaram seu carinho através das palavras. E as palavras lidas afetaram emocionalmente a querida Leila. Houve troca, afeição e desejos sinceros de feliz vida, saúde, paz e felicidade. Tanto que ela desejou fazer aniversário mais vezes durante o ano, claro, sem trocar a idade, porque a festa pode ser virtual, mas a idade é real.
O limite entre o real e o imaginário não está bem definido ainda, mas entre um e outro está, com certeza, o ser humano real, de carne e osso. E seria bem difícil fazer uma festa com pessoas de carne e osso de vários estados do Brasil e até pessoas de outros países, durante vários dias, na sua casa real da Leila. A festa virtual foi possível graças ao tipo de encontro que a internet pode proporcionar.
O virtual pode ser concreto quando há interação, pois as pessoas podem não ser tocar fisicamente, mas a emoção é um sentimento real e pode nos transformar e engrandecer como pessoas. Eu não imaginei que aquela festa seria a minha despedida do Orkut. Assim como ela foi inesquecível para Leila, será para mim também.
Solange Firmino