Diário de uma cachorrinha
José Celso Garcia

 


A doença

Quando a família viaja, Tina aprende novas travessuras, aparentemente inocentes. Algum tempo depois, é internada, gravemente enferma.


Meu Diário
Diamantina Edgarda

PS 2: - 20.07.99 - Já havia desistido de continuar a escrever, mas os grandões deram um sumiço de vários dias, acho que mais de 15. Só a D. Cidinha é que ficou por aqui, para nos dar comida. Neste meio tempo os cachorros de fora sumiram. Acabou a brincadeira. O Seu Pedro, que mora na casa da D. Cidinha, desenterrou uns negócinhos, umas caixinhas compridinhas, sujas de terra, que a D. Cidinha botou para secar ao sol. Depois de secas ela espreme e saem duas bolotinhas gostosas de dentro da caixinhas. Eu também aprendi a espremê-las e tirar as bolinhas para comer. Só que os grandões não deixam. Tenho que fazer escondido. Quando os grandões chegaram depois do sumiço é que fiquei sabendo que as bolinhas chamam amendoim.


29.09.99 – Deve ser defeito de fabricação, mas eu não consigo ficar quieta. Agora eu descobri uns negócios grandes que o grandão enterrou no quintal. São umas bolas, peludas por fora, que eles chamam de coco. Acho que ele enterrou pra virar planta. Eu arranquei e desmanchei todos eles. Só pra ver como era dentro. Se fosse igual ao amendoim ia dar o maior pé. Dava pra mim ficar sem almoçar e jantar uns três dias.

PS (de novo) 05.10.99 – Estou esquisita, a cabeça está rodando. Tenho muita sede mas não consigo ir até a lata para beber água. Fico deitada, estirada no chão, não consigo levantar, não tenho vontade de comer, nem as coisas gostosas que os grandões põe perto do meu focinho. Estou no quartinho, agora dentro de uma caixa de papelão, não consigo nem ver o que tem do lado de fora da caixa; só vejo o teto e, mesmo assim meio embaçado. Fiz cocô até não poder mais, vomitei, tô mal... Onde o grandão está me levando? Estou dura e fria, não consigo nem mexer a cabeça. Ele me pôs no chão do carro. Estamos andando. Andando muito. Chegamos num lugar diferente. Umas pessoas diferentes... Eles me amarraram toda numa mesa gelada. Me espetaram agulhas. Uma ficou presa na minha pata da frente. O grandão foi embora e me deixou com os estranhos. Será que ele se cansou de mim por eu estar estragada? Será que aqui é o lixão? Acho que não, tem outros cachorros aqui. Presos em gaiolas. Será que aqui é o céu dos cachorrinhos? Ou será o inferno? Eu fiz muita arte mas nunca fui maldosa, por que iria para o inferno?... Acho que dormi muito tempo... Agora estou numa gaiola também. Já consigo levantar a cabeça e me sentar meio deitada... puseram uma ração para mim... comi um pouquinho... tá escuro e frio, deve ser de noite... tem um cachorro na gaiola do lado latindo e chorando... eu não consigo latir...

Estou melhor, já fico de pé, bebo água e estou comendo... nossa! como eu emagreci! Não sei por quanto tempo estou nesse lugar, mas já devem ter passados vários dias. Olha! O grandão apareceu e veio me ver...

Oi grandão!, abanei eu. Vê se me leva embora daqui, abanei de novo. Aqui é muito chato. Fico o tempo todo dentro dessa gaiola.

Agora veio o moço, me tirou da gaiola e me colocou no tanque,... banho!!! Socorro grandão! não fica ai olhando feito bobo, faça alguma coisa! Ih! Sabão no olho... toalha! depressa!... ah! que alívio... Mais cuidado, viu moço!... Ei?! O quê é isso? Uma coisa barulhenta que sopra quente... É até gostoso, meu pelo está ficando sequinho e quente... Legal!

O grandão me pôs no carro de novo, mas agora estou indo no banco e não no chão, dá pra ver lá fora. Nossa! quanto carro!, quanta gente!, quanta casa!

Ah! chegamos, até que enfim de novo no lar. Esse negócio de infinito... tô fora!


 

« Voltar