Capítulo 2
Duas semanas depois, a enfermeira Odete, de plantão no berçário, atendeu o telefonema de Gilda, a auxiliar da manhã:
– Odete, roubaram o meu crachá. Ele não está na minha bolsa e eu tenho certeza de que o guardei aqui.
– Mas, Odete, você acabou de vir buscar a bolsa...
– Minha bolsa está comigo e eu estou em casa, não voltei ao hospital. Alguém mexeu em minhas coisas, tenho certeza, e roubou meu crachá.
– Espere um pouco, Gilda. Jane, aquela moça que começou a trabalhar aqui hoje, acabou de dizer que você esteve aqui para pegar a bolsa e.... – neste instante Odete notou que o berço de Gustavo estava vazio.
Dado o alarme, foi apurado o seguinte: uma mulher ruiva, os cabelos apertados em um coque, usando o crachá da auxiliar Gilda, também ruiva, entrou no berçário explicando para a nova auxiliar, Jane, que estivera de plantão à noite e esquecera sua bolsa no armário, saindo logo a seguir carregando uma sacola, presumivelmente a que esquecera no plantão, e nesses poucos minutos raptara um dos bebês.
Novamente a semelhança entre a raptora e a foto da funcionária no crachá enganara o porteiro.
O delegado Fontes ponderou:
– É coisa de profissional. A técnica do "personagem
invisível". Alguém não é notado justamente
por estar no lugar em que se espera que esteja. Quem é que repara
em um uniforme, não é? Diz-se "é apenas o porteiro",
"é a enfermeira", e quando se pergunta como era exatamente o rosto
desta enfermeira, deste porteiro, ninguém prestou atenção
ou diz que ela era ruiva ou tinha os cabelos repicados e parecia ser a
Drª Simone e parecia ser a auxiliar Gilda, mas não era!