Capítulo 3
Nos meses que se seguiram, bebês foram raptados em feiras, farmácias, supermercados e até em postos de saúde. A estratégia empregada pelos raptores levava a crer que se tratava de uma quadrilha muito bem estruturada. Analisemos, por exemplo, o caso de um dos bebês desaparecido na fila do posto de saúde. Bastou que a atenção damãe se desviasse por um minuto, a conferir o registro de nascimento com a carteira de vacinação e pronto! Sumira-se o bebê!
Eram dez horas da manhã e dezenas de mães com dezenas de bebês circulavam por ali aguardando consultas ou vacinas e, tanto para Mariana quanto para as funcionárias, ficou extremamente difícil identificar quem saíra ou entrara na última meia hora, simplesmente porque havia diversas mulheres iguais!
Quer dizer, não exatamente iguais, mas, bem, estas mulheres eram jovens, mulatas, de cabelos curtos e todas usavam blusas pretas de alças e saias curtas estampadas. É bem verdade que fazia calor e que blusas pretas de alças e saias curtas estampadas estavam na moda. O fato é: várias mulheres jovens, mulatas, de cabelos curtos e vestes semelhantes foram vistas a circular nas imediações com ou sem crianças. Poderia ter sido qualquer uma delas mas não fora nenhuma das identificadas.
Estudemos, agora, o caso do bebê raptado no supermercado. O relato de Denise não deixa dúvida alguma: tratava-se de uma armação muito bem executada.
As raptoras foram vistas e bem vistas: as loiras platinadas.
O porteiro lembrava-se bem delas, pois entraram e saíram juntas. Ele olhara para elas com atenção porque pareciam paquitas ou dançarinas do Domingão do Faustão. Loiras deslumbrantes e todas diferentes entre si: uma tinha cabelos curtos, outra longos e lisos, outra cacheados, uma estava de rabo de cavalo, outra de coque, outra os usava repicados etc. As roupas eram vistosas, alegres e completamente diferentes umas das outras: uma usava calças, outra saia, uma minissaia, outra saia longa, outra bermudas. O porteiro lembrava-se de que, quando saíram, uma delas levava um bebê que chorava, mas qual delas? E, na entrada e na saída, as loiras haviam falado com ele, pedindo informações, e ele se distraíra...
Denise lembrava-se de que esbarrara o tempo todo com loiras platinadas: na seção de frios, de laticínios, de verduras, até na fila da padaria. Todas as loiras haviam falado com ela, com comentários e perguntas corriqueiras "por favor, a senhora enxerga o prazo de validade nesta embalagem?", "não consigo encontrar queijo ralado" e coisas do gênero.
A criança desaparecera quando Denise dirigia-se ao caixa e a velhinha esbarrou no carrinho dela. Vários produtos caíram dos carrinhos e uma pequena discussão armou-se em torno de um pacote de amido de milho que a venhinha insistia em dizer que pertencia a Denise. A questão é que a venhinha afirma ter sido empurrada, não vira por quem, e fora neste momento que as loiras platinadas, cujos cabelos eram evidentemente tingidos, retiraram-se do local.
Uma quadrilha organizada, sim, senhor! – exclamava Fontes – O que eles fazem com as crianças, afinal?
Falou-se em esquemas de adoção ilegal e transplantes de órgãos. Exaustivas investigações fizeram-se em orfanatos, hospitais, portos e fronteiras.
– Bobagens! – resmungava Fontes. – Adotar uma criança é bem simples: nas portas dos hospitais há mães solteiras dando de graça seus filhos, é só pegar, levar ao cartório mais próximo e registrar como seu. Todo mundo conhece um vizinho ou conhecido que fez algo semelhante, ou que tirou uma criança da rua por pena e ninguém encrenca com isso. Quanto a transplantes de órgãos, a ONU já fez um rastreamento mundial sobre esta questão e não encontrou nada. É simplesmente impossível fazer-se um transplante fora dos centros internacionais credenciados, pois os custos são altíssimos, as particularidades tecnológicas impossíveis de serem reproduzidas por não profissionais e os profissionais envolvidos já são milionários. Isto é pura ficção!
– Mas, então, delegado, onde estão os bebês?
– É o que vou descobrir, ah, se vou!