Capítulo 1
“— Estou com mau pressentimento — disse Caio naquela noite nublada, há vinte e cinco anos”.
Eu já havia esquecido aquela noite.
Não totalmente — e não admitir isso seria uma idiotice, ao levar em conta o pesadelo pelo qual passamos — mas posso dizer que foi como esconder a sujeira embaixo do tapete. E agora que estou sentado na varanda da minha casa, observando o outro lado da rua, minhas lembranças vieram à tona. Mais ou menos como se alguém, depois de muito tempo, levantasse o tapete e dissesse “Ei, o que significa isto mocinho?! Será que você pode me dizer??
”Sim, eu posso. Não queria, mas posso.
Naquela época, fazíamos parte da Legião. Eu, Rubens, Caio e Paulo, quatro rapazolas filhinhos-de-papai interessados somente em prazeres sujos e diversão barata.
Vergonhoso, mas pura verdade.
Gostávamos mesmo do lado obscuro da coisa. Fumar maconha e cheirar cocaína durante noites inteiras.
E, às vezes, depois de uma boa briga, injetávamos algo diferente em nossas veias com o resto dos caras.
Essa era a nossa gangue.
Essa era a Legião.
Na verdade, uma legião de otários. E aprendi isso da pior maneira possível.
Naquela noite, estávamos no centro de São Paulo á procura de uma tal droga nova que era vendida num beco próximo à rua Augusta. Já tínhamos cheirado um bocado de pó durante o dia, mas queríamos mais. Rubens, o mais velho, tinha obsessão por novidades e, quando comentaram sobre o que estava sendo vendido por aí, ficou entusiasmado. “Putz! — disse ele esfregando as mãos — Não durmo enquanto não injetar essa coisa na minha veia . Vamos lá agora mesmo!” . Estávamos sem carro e o apartamento dos pais de Rubens era ali perto. No início, pareceu ser uma boa idéia.
Mas foi só no início.